Projeto de lei para combate ao câncer de cabeça e pescoço é aprovado em comissão e segue para votação em plenário em Timóteo
O câncer de cabeça e pescoço é o quinto mais incidente no Brasil, afetando tanto homens quanto mulheres e causando cerca de 10 mil mortes por ano
Por Matheus Valadares
14/04/2023 12h11 - Atualizado há mais de 1 ano
Na reunião de comissão que aconteceu nessa quinta-feira (13), uma proposta de lei importante na área da saúde foi aprovada para seguir para votação em plenário: o Projeto de Lei (PL) nº 4.494 que institui o mês de julho como Mês Municipal de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço.
Caso seja aprovado e sancionado após tramitação, será instituído o “Julho verde” no município de Timóteo, que será realizado anualmente no período de 1º a 31 de julho, passando a integrar o Calendário Oficial da cidade
Com isso, os órgãos do Poder Público Municipal terão o dever de elaborar campanhas no mês de julho de cada ano que visem à disseminação de informações sobre os riscos, danos, formas de prevenção, fatores de risco, causas de desenvolvimento e outras informações relevantes relacionadas a câncer que afete as regiões corporais da cabeça e do pescoço, como o seu combate.
Assim, o PL tem como objetivo evitar o alastramento dos diversos tipos de cânceres que afetam a região da cabeça e pescoço, segunda causa mais fatal entre as doenças, para os brasileiros, atrás apenas das doenças cardiovasculares.
Em virtude de toda a mão de obra movimentada, o tratamento, por ser extremamente caro, acaba tornando-se inviável à população de baixa de renda que, no geral, já possui menor grau de instrução e, portanto, tem dificuldade em compreender um tema de tão alta complexidade. Por todas essas razões, fica claro que ações de prevenção a essas patologias são uma das formas mais baratas de prevenção. É inegável a necessidade de se apoiar a causa e levar o Poder Público Municipal à obrigação de propagar informações que ajudem a sociedade a se prevenir e combater males tão danosos.
Câncer de cabeça e pescoço: causas, sintomas e prevenção
O câncer de cabeça e pescoço é o quinto mais incidente no Brasil, afetando tanto homens quanto mulheres e causando cerca de 10 mil mortes por ano. De acordo com especialistas, a falta de informação da população sobre a doença é um dos principais motivos para 70% dos casos serem descobertos já em estágio avançado.
O câncer de cabeça e pescoço refere-se a qualquer tumor que se desenvolve nessas regiões do corpo, podendo afetar diversas áreas como a cavidade oral, faringe, laringe, tireoide, seios da face, glândulas salivares e linfonodos no pescoço.
Incidência e fatores de risco
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano são esperados cerca de 1,5 milhão de novos casos de câncer de cabeça e pescoço em todo o mundo, com 460 mil mortes. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que entre 2020 e 2022 haverá 685 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço, sendo o tumor mais comum entre homens o de boca, e entre as mulheres o de tireoide.
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço são o tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, infecções por HPV, má higiene bucal, exposição a substâncias tóxicas e radiação.
Sinais e sintomas
Os sintomas do câncer de cabeça e pescoço variam de acordo com a área afetada, podendo incluir manchas brancas ou avermelhadas na boca, feridas que não cicatrizam, nódulos no pescoço, rouquidão e/ou alteração na voz por mais de 15 dias, dor de garganta persistente, tosse, dor ou dificuldade para engolir e/ou respirar, dor no ouvido e dor de cabeça.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico precoce do câncer de cabeça e pescoço tem cerca de 80% de chances de sucesso no tratamento. O médico pode realizar uma análise clínica e examinar os sinais e sintomas, além de pedir uma biópsia para confirmar o diagnóstico. Em casos mais avançados, exames complementares como ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e PET-TC podem ser necessários.
O tratamento para o câncer de cabeça e pescoço varia de acordo com a área afetada e a extensão da doença, podendo incluir cirurgia, quimioterapia, imunoterapia e/ou radioterapia.
Prevenção
Existem diversas formas de prevenir o câncer de cabeça e pescoço, incluindo a vacinação contra o HPV, não fumar, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, manter uma boa higiene bucal, usar preservativos durante o sexo oral e visitar
Números alarmantes
Na semana passada (08/04) foi o Dia Mundial de Combate ao Câncer e a revista Veja publicou uma matéria sobre um dado triste, baseado numa pesquisa de oncologistas: a pandemia fez casos graves de câncer de mama subirem 26% no Brasil, tanto em pacientes da rede pública como os da rede privada de saúde. O estudo revela como período do isolamento - quando ainda não havia vacina, e os postos e hospitais eram locais perigosos para se estar naquele momento - impactou no diagnóstico da doença, fazendo mais mulheres descobrirem o tumor quando há poucas chances de cura.
Segundo o mastologista do Grupo Oncoclínicas, um dos autores do levantamento, uma das causas por trás dessa situação é a redução no número de mamografias que, na comparação do período de 2019 a 2020, a queda da realização desse exame foi de 40%.
“A minha pesquisa foi feita com pacientes da rede privada de saúde, ou seja, que tem plano de saúde ou condições de fazer os exames no particular. O meu colega mastologista Ruffo Freitas Júnior, fez análise com pacientes da rede pública que precisam do SUS. O impacto foi maior com os pacientes do SUS porque além de atrasarem pelo medo do Covid, quando chegaram para fazer os exames já tinha uma demanda represada no sistema público de saúde. Não tinha vazão necessária, pois a fila é enorme e demora meses. O tempo do diagnóstico demora mais e o avanço da doença não espera. Ou seja, no SUS houve um aumento ainda maior que na rede particular”, disse Resende.
Independente da pandemia ter sido um período atípico que retardou a realização dos exames preventivos principalmente, a necessidade de priorizar a informação e facilitar o acesso da população sobre a prevenção do câncer continua como sempre.
“Tem tipo de câncer que podemos diminuir a mortalidade e a incidência fazendo exames de rastreio e prevenção como: mamografia para o câncer de mama, o preventivo para câncer do colo de útero, colonoscopia para o câncer de intestino e o exame de PSA e de toque para o câncer de proposta. Quando a pandemia veio, esses exames que detectam precocemente a doença, foram interrompidos pelo medo de contrair o coronavírus. Então hoje o que estamos vendo é um aumento de casos de cânceres avançados, porque o “carocinho” que seria diagnosticado nesses preventivos estão maiores, chegam no consultório hoje com uma lesão grande. Esses pacientes chegaram no consultório pós pandemia com estágio avançado da doença. E isso não se aplica só a câncer de mama que é hoje minha especialidade, mas a outros também”, explicou Cristiano Resende.
Ele aponta a importância de políticas públicas oriundas das casas legislativas, em todo país, como instrumento de promover qualidade de vida para a população em relação à prevenção e tratamento de doenças, nesse caso, o câncer, seja de mama ou outro. Na Câmara de Timóteo há um histórico de projetos de leis sobre o câncer de autoria dos vários vereadores que passaram pela Casa durante anos. As matérias versam sobre conscientização, prevenção e assistência social.
“A questão do Legislativo como parceiro da Saúde está, ao meu ver, com o objetivo que os legisladores devem ter de desenvolver propostas de lei que facilitem o acesso aos exames de prevenção e, quando diagnosticada a doença, facilitar para que o paciente seja acolhido rápido no sistema de saúde para receber o tratamento”, ressaltou o oncologista.
Legislação
Cristiano citou ainda que existe uma lei - “Lei dos 60 dias” que por meio dela toda pessoa, após o diagnóstico de câncer, tem que em no máximo 60 dias já estar sendo atendida dentro do sistema público por um serviço de excelência em oncologia. Porém a realidade não anda com a legislação vigente.
“Mesmo com essa lei, existe uma série de entraves nesse processo. O paciente faz mamografia, em seguida pede-se biópsia e após esse resultado que ela consegue entrar no serviço de referência. Porque o posto de saúde é um serviço primário e, o hospital com o oncologista é o serviço secundário ou terciário onde tem serviços de saúde mais especializados. Então essa conexão dos níveis de serviço de saúde (primário e secundário) precisa ser mais rápida, porque se você trava no posto de saúde atrasa o restante do processo do tratamento. Porque a celeridade desse processo - diagnóstico e tratamento - representa chance de cura maior”, informou.
“E mais do que isso: a informação sobre as ferramentas que a população tem para usar ao seu favor nesse processo, seja de prevenção e/ou tratamento: isso tem que ser divulgado em massa, porque evita a doença e economiza-se em tratamento para essa população”, ressaltou Resende.