Facções do Rio aterrorizam comerciantes e provedores de internet no Ceará
Ministério Público denuncia ação violenta do Comando Vermelho em Fortaleza; grupo extorquia empresários e impôs domínio sobre serviços de internet em bairros da região metropolitana
Por Plox
14/04/2025 10h06 - Atualizado há 3 dias
Empresários e lojistas de Fortaleza vêm sendo alvos de extorsão por parte de integrantes do Comando Vermelho (CV). As denúncias apresentadas pelo Ministério Público do Ceará (MP-CE) revelam um esquema articulado de coação, no qual criminosos exigiam o pagamento de até R$ 30 mil para que as vítimas não fossem mortas nem tivessem seus estabelecimentos incendiados.
O caso veio à tona após a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) iniciar um inquérito em novembro de 2023. A investigação foi motivada pela denúncia de um comerciante que relatou ter recebido mensagens de WhatsApp com ameaças diretas. Em uma delas, os criminosos afirmavam: “encher a cara de bala”.

A pressão aumentou depois que o cadeado da loja da vítima, localizada na avenida Duque de Caxias, foi incendiado. Uma nova mensagem então reforçou: “Agora você acredita que não é golpe, isso foi só uma alerta pra você mim [sic] pagar”.

As ameaças vinham de números com DDDs de outros estados, como 21 (Rio de Janeiro) e 31 (Minas Gerais), e eram atribuídas a membros da chamada “Tropa do Veterano CV”.
Ataques a provedores de internet: domínio territorial violento
Além dos ataques a lojistas, provedores de internet também se tornaram alvo de facções criminosas no Ceará. Segundo reportagem exibida pelo Fantástico nesse domingo (13), grupos como o Comando Vermelho e o Guardiões do Estado estão expulsando empresas provedoras de diversas comunidades. Os criminosos exigem o controle do serviço de internet local, ameaçando ou agredindo funcionários, e impondo restrições à entrada de técnicos em áreas dominadas.

Um dos episódios mais recentes ocorreu em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, no dia 4 de abril. Criminosos armados invadiram a sede de uma empresa provedora de internet, atearam fogo em equipamentos e fugiram em seguida. A ação, registrada por câmeras de segurança, destruiu a central de atendimento e parte da infraestrutura da empresa.
Moradores relataram que, após o ataque, a conexão foi interrompida por dias e, mesmo com a tentativa de retomada do serviço, os profissionais da empresa foram impedidos de retornar ao bairro. As investigações sobre o caso foram assumidas pela Polícia Civil do Ceará.
Denúncia formal e prisão de envolvidos
A denúncia do MP-CE, protocolada no dia 12 de março e assinada por oito promotores de Justiça, responsabiliza três envolvidos pelo esquema de extorsão em Fortaleza. Um deles, Valdenir Lima Saraiva, foi apontado como o líder das ações e está foragido. Outros dois cúmplices — um homem e uma mulher — foram presos no fim de março, sendo que a mulher responde em prisão domiciliar.

Durante a apuração, a polícia descobriu que a dupla ajudava a movimentar o dinheiro extorquido das vítimas. A mulher cedeu sua conta bancária para receber R$ 10 mil e ficou com R$ 1 mil pela operação. Já o homem, que intermediou o contato, foi recompensado com R$ 150. Segundo eles, Valdenir os procurou e negou que a origem do dinheiro fosse ilícita.
Facções ampliam domínio e impõem terror
Nos casos de extorsão relatados ao MP, as mensagens enviadas às vítimas deixavam claro o envolvimento do Comando Vermelho e o objetivo de consolidar o domínio territorial. Um dos textos enviados por criminosos afirmava: “Sua loja faz parte da minha área CV”. Em outro, a ameaça era direta: “Se bloquear o contato, já sei sua resposta, é guerra”.
O MP reforçou em sua denúncia que as ações tinham como finalidade principal a intimidação das vítimas e a obtenção de dinheiro para financiar as atividades do grupo criminoso. Já nos ataques a provedores de internet, a intenção seria manter o monopólio do fornecimento de conexão em comunidades sob influência das facções.