Novo exame de HPV com autocoleta será oferecido pelo SUS a partir de maio
Minas Gerais deve ser um dos primeiros estados a adotar o exame molecular de DNA-HPV no lugar do tradicional papanicolau
Por Plox
14/04/2025 08h27 - Atualizado há 11 dias
A partir de maio, o Sistema Único de Saúde (SUS) dará início a uma nova etapa na prevenção ao câncer do colo do útero. O tradicional exame papanicolau será gradualmente substituído pelo teste molecular de DNA-HPV, que permite a detecção mais precisa do vírus responsável por quase todos os casos da doença. Pernambuco será o primeiro estado a implementar a novidade, e Minas Gerais já manifestou interesse em aderir à mudança na fase inicial da transição.

O novo teste não apenas utiliza tecnologia molecular mais avançada, como também oferece a possibilidade de autocoleta. Isso significa que a própria paciente poderá recolher a amostra utilizando um “swab” — um tipo de cotonete — que coleta fluidos e tecidos vaginais de forma simples. Esse método já é adotado por diversos países da Europa e da América do Norte, e desde 2021 é recomendado pela Organização Mundial da Saúde como a principal forma de rastreamento do HPV.
Com maior sensibilidade diagnóstica, o teste molecular facilita a detecção precoce do vírus, tornando a prevenção ao câncer mais eficaz. Segundo o Ministério da Saúde, a previsão é de alcançar cerca de 435 mil mulheres em um ano. A ampliação será feita de maneira progressiva em todo o país entre 2025 e 2026, período em que as equipes de saúde passarão por capacitações e serão definidos os protocolos de coleta e análise laboratorial.
A ginecologista Cláudia Soares Laranjeira explica que o papanicolau depende exclusivamente da habilidade médica e que a chegada do teste molecular representa um avanço importante. “Com dois resultados negativos, a mulher poderá fazer o exame a cada cinco anos, diferente do papanicolau, que exige periodicidade anual”, pontua.
Para a professora Mariana Seabra, da Faculdade Ciências Médicas da UFMG, a autocoleta pode aumentar significativamente o alcance do rastreamento, especialmente em regiões com menos acesso a unidades de saúde, como o Norte e o Nordeste do país.
“Com a autocoleta, a paciente envia o material ao laboratório sem sair de casa. E o melhor: conseguimos saber onde está essa mulher com HPV positivo e acompanhá-la de perto”,
afirma.
Além da praticidade, a rapidez nos resultados é outro benefício. Enquanto o papanicolau pode levar até três meses para retornar, o teste molecular automatizado reduz esse tempo. Mariana alerta, no entanto, que será preciso estruturar bem o fluxo de atendimento após os resultados, para garantir o acompanhamento correto de cada caso.
Sobre o procedimento, Mariana esclarece que a autocoleta é simples: a mulher insere o swab na vagina, faz uma rotação e armazena o material corretamente para não comprometer o DNA. Mesmo com a nova metodologia, o papanicolau continuará sendo utilizado nos casos em que o resultado der positivo, servindo como exame complementar.
Cláudia Soares destaca ainda que o sucesso da nova abordagem exigirá investimentos em produção e distribuição dos kits, além de ações educativas para conscientização. “Pode parecer mais caro no início, mas os custos evitados com tratamentos de câncer compensam a mudança”, conclui.
Por fim, Mariana reforça a importância de se considerar as realidades regionais e também a necessidade de intensificar a vacinação contra o HPV, especialmente entre jovens de 9 a 19 anos. “A vacina está disponível, mas ainda é pouco procurada. Precisamos melhorar essa cobertura vacinal urgentemente”, alerta a especialista.