Condenação de Leo Lins a mais de 8 anos de prisão divide opinião pública
Humorista recebeu pena por piadas ofensivas e é acusado de incitar preconceito contra grupos minoritários
Por Plox
14/06/2025 10h48 - Atualizado há 1 dia
A recente condenação do humorista Leo Lins a oito anos e três meses de prisão reacendeu discussões acaloradas sobre os limites do humor e o direito à liberdade de expressão.

A sentença, determinada pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, refere-se ao show “Perturbador”, publicado em seu canal do YouTube em 2022, onde Lins fez piadas ofensivas envolvendo temas como pedofilia, racismo, homofobia e discriminação contra nordestinos, obesos, pessoas com HIV, indígenas e evangélicos. Entre as falas controversas, estão declarações como “Sou totalmente contra a pedofilia, sou mais a favor do incesto…” e “O nordestino do avião? 72% [humano]”.
A Justiça baseou a decisão nos artigos 20 da Lei do Racismo e 88 do Estatuto da Pessoa com Deficiência, considerando que o humorista praticou e incitou discriminação. Além da pena em regime fechado, ele deverá pagar multa de 1.170 salários mínimos e indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. Ainda cabe recurso.
A repercussão foi imediata. Parte do público e figuras artísticas se posicionaram a favor da condenação, como a atriz Luana Piovani e o ator Pedro Cardoso, que consideraram a decisão necessária diante da propagação de discursos de ódio. Para o professor e antropólogo Dagoberto José Fonseca, trata-se de uma “punição exemplar”, destacando que piadas como as proferidas por Lins não são apenas ofensivas, mas violentas e prejudiciais a populações vulneráveis.
Por outro lado, artistas como Danilo Gentili, Antonio Tabet e Mauricio Meirelles criticaram duramente a decisão, argumentando que representa um ataque à liberdade artística. Em defesa, Lins afirmou que o conteúdo do show é ficcional, uma performance cômica construída ao longo de uma década, e não reflete suas opiniões pessoais.
Marcos Mion, apresentador da Globo, inicialmente expressou desacordo com o humor de Lins, mas criticou a censura. Após críticas, apagou a postagem e publicou novo texto tentando esclarecer seu posicionamento, alegando que a censura não é o caminho, mas reconhecendo que o conteúdo pode configurar crime.
Juristas também se dividiram. Para alguns, como Fábio de Sá Cesnik, a liberdade de expressão não é ilimitada e deve respeitar a dignidade humana. Outros, como Rafael Paiva, consideraram a pena desproporcional, comparando-a com penas aplicadas a crimes como tráfico de drogas.
O advogado de defesa, Carlos Eduardo Ramos, sustentou que não houve intenção de ofensa e que o espetáculo é uma obra ficcional. Ainda segundo ele, as testemunhas e o próprio Lins negaram que as piadas reflitam opiniões reais.
O caso evidencia o embate entre liberdade de expressão e proteção de direitos fundamentais, e pode abrir precedente para futuras decisões judiciais envolvendo a arte e seus limites.