Explosão na demanda por saúde mental em Belo Horizonte agrava por falta de psiquiatras

Um total de 70 médicos psiquiatras é responsável por atender toda a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte

Por Plox

14/07/2023 08h05 - Atualizado há cerca de 2 anos

Belo Horizonte vive uma crise na saúde mental, em um momento em que a demanda por atendimentos psiquiátricos cresceu exponencialmente após o início da pandemia de Covid-19. Informações provenientes da Secretaria Municipal de Saúde revelam um salto de 106% na busca por atendimento nos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams) em 2022, em relação ao ano de 2019. No entanto, o número de psiquiatras disponíveis na rede pública da capital mineira encontra-se em declínio.

A carência de especialistas no setor é acentuada, com uma queda de 10% no contingente total de psiquiatras entre os anos citados. A Secretaria Municipal de Saúde, em nota, confirmou as dificuldades na contratação desses profissionais, indicando que a tendência de redução é persistente em 2023.

 

Foto: Pixabay/ Reprodução
 

Consequências da Escassez de Psiquiatras na Rede Pública

Um total de 70 médicos psiquiatras é responsável por atender toda a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte. O sistema de saúde mental da cidade conta com 16 Cersams, 152 postos de saúde e oito consultórios de rua, entre outros equipamentos de saúde. No entanto, apenas 28 destes especialistas estão disponíveis para atendimento nos postos de saúde, considerados a porta de entrada para o atendimento em saúde mental da rede pública.

Lauro Guirlanda, do Departamento de Psicoterapias da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), afirma que o ideal seria contar com, no mínimo, um psiquiatra por unidade. Ele ressalta que o crescimento dos transtornos mentais, especialmente após a pandemia, está causando dificuldades para os pacientes obterem atendimento adequado. A situação é especialmente preocupante em Belo Horizonte.

A salgadeira Núbia Botelho, mãe de um menino de 10 anos com suspeita de autismo, exemplifica as dificuldades vivenciadas por muitos. "Faz mais de dois anos que busco atendimento no posto de saúde do bairro Providência (na região Norte), mas a desculpa que escuto é que vão avaliar ou que a psiquiatra está de licença", lamenta.

Segundo Guirlanda, a escassez de psiquiatras na rede pública está associada a más condições de trabalho, baixos salários e falta de estrutura. A prefeitura de Belo Horizonte afirmou que mantém um banco de currículos para contratação imediata, mas não revelou o número de vagas disponíveis nem o salário oferecido.

O psiquiatra Fernando Siqueira, referência técnica da Gerência de Saúde Mental de BH, admitiu as dificuldades para contratar psiquiatras, mesmo com vagas disponíveis. Ele acrescenta que a grande maioria dos casos atendidos nos postos de saúde são transtornos mentais comuns, cujo atendimento pode ser feito por médicos generalistas.

A Secretaria Municipal de Saúde prevê um investimento de aproximadamente R$ 41,9 milhões na rede de saúde mental em 2023, um aumento de 60% em comparação com o valor investido em 2019, antes da pandemia. Este investimento inclui gastos com estrutura e contratações.

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