Discreta e eficiente, lagartixa africana conquista os lares brasileiros

Espécie exótica chegou ao país escondida em navios e hoje é presença comum nas casas, onde ajuda no controle de insetos

Por Plox

14/07/2025 14h45 - Atualizado há cerca de 8 horas

Discretas e ágeis, elas ocupam tetos, paredes e cantos iluminados das casas brasileiras com tamanha naturalidade que poucos imaginam sua verdadeira origem. As lagartixas domésticas, da espécie Hemidactylus mabouia, têm raízes africanas e chegaram ao Brasil de forma involuntária, escondidas em navios que cruzaram o Atlântico há séculos.


Imagem Foto: Pixabay


Segundo o herpetólogo Willianilson Pessoa, a principal teoria é que esses répteis embarcaram em navios negreiros ou de passageiros enquanto estavam atracados por longos períodos nos portos africanos. Assim que as embarcações aportavam em terras brasileiras, as lagartixas desciam, encontrando abrigo seguro e abundância de alimentos nos centros urbanos.


Ao longo dos anos, a Hemidactylus mabouia se espalhou amplamente pelo território nacional, ganhando espaço também em outros países das Américas Central, do Sul e do Norte. Embora seja classificada como invasora por não possuir predadores naturais no novo ambiente, não há registros de danos diretos causados por ela à fauna brasileira.



A presença dessas lagartixas, na verdade, tem se mostrado benéfica, principalmente no controle de pragas urbanas. Alimentam-se de artrópodes como aranhas e insetos, utilizando uma técnica eficiente: posicionam-se próximas às lâmpadas, aguardando que suas presas sejam atraídas pela luz.


Curiosamente, outras espécies do mesmo gênero são nativas do Brasil, como a Hemidactylus brasilianus e a Hemidactylus agrius, restritas à Caatinga. Pessoa observa que a aversão de alguns moradores a esses animais muitas vezes ignora o contexto de ocupação urbana e o papel ecológico que eles exercem.



Esses répteis apresentam ainda características marcantes. Capazes de mudar de cor por meio de cromatóforos, variam do quase translúcido ao escuro conforme a luz do ambiente. Além disso, podem desprender facilmente a cauda como mecanismo de defesa.


Outro aspecto fascinante está na habilidade de caminhar de cabeça para baixo. Esse feito é possível graças às forças de van der Waals, somadas a lamelas adesivas e garras adaptadas que lhes permitem aderência até mesmo em superfícies lisas, como o vidro. O pesquisador explica que há uma alternância entre atração e repulsão a cada passo, garantindo a locomoção vertical ou invertida com total controle.



Assim, as lagartixas domésticas seguem como hóspedes improváveis, silenciosamente adaptadas ao convívio humano, prestando um serviço invisível no equilíbrio ecológico dos lares brasileiros.


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