Dólar sobe após ameaça de Trump aumentar tarifas contra Brasil e aliados

Moeda norte-americana registra valorização em meio a tensões comerciais provocadas por declarações de Trump sobre sobretaxas

Por Plox

14/07/2025 10h54 - Atualizado há cerca de 12 horas

As tensões comerciais voltaram a dominar os mercados nesta segunda-feira (14), com o dólar iniciando o dia em forte alta diante da nova rodada de ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de tarifas contra diversos países, incluindo o Brasil.


Imagem Foto: Pixabay


Logo pela manhã, às 9h03, a moeda norte-americana subia 0,36% e era cotada a R$ 5,5678. No pico do dia, às 10h55, o dólar alcançou R$ 5,591, refletindo a inquietação dos investidores quanto a uma possível escalada tarifária entre os dois países. Apesar do avanço inicial, a moeda perdeu força durante a tarde após Trump sinalizar disposição para diálogo com o presidente Lula, dizendo que poderá conversar com ele “em algum momento”. Com isso, o dólar caiu para R$ 5,540 às 16h19, repetindo o patamar da última quinta-feira.



Na última sexta-feira (11), a moeda havia encerrado o dia praticamente estável, com leve alta de 0,09%, cotada a R$ 5,546. Mesmo assim, ao longo da semana, o dólar acumulou valorização de 2,24% frente ao real. No acumulado do ano, porém, a moeda ainda registra queda de 10,24%.


O estopim para o movimento do câmbio foi o anúncio de Trump, feito na quarta-feira (9), de que os Estados Unidos vão aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros. A declaração acendeu o alerta entre analistas, que veem risco de impacto direto sobre inflação e investimentos no Brasil.


O presidente Lula criticou abertamente a decisão americana e afirmou que o Brasil buscará negociar, mas não hesitará em aplicar medidas de retaliação com base na lei de reciprocidade, caso necessário.
“Nós não queremos brigar com ninguém. Mas, se ele [Trump] ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação. O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil”, disse Lula em entrevista ao Jornal Nacional.

A resposta de Trump não demorou: ele ameaçou elevar ainda mais as tarifas caso o Brasil reaja. O clima de animosidade causou insegurança entre investidores e pressionou os mercados. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 0,40% no fechamento de sexta-feira, aos 136.187 pontos. As ações da Localiza foram destaque negativo, com queda de 4,15%.



Ao longo da semana passada, o índice acumulou perda de 3,64%, enquanto no mês de julho a desvalorização chegou a 1,96%, após quatro meses consecutivos de alta que haviam somado 13% de valorização.


No campo internacional, as ameaças de Trump não se limitaram ao Brasil. O republicano afirmou que aplicará uma taxa de 35% sobre os produtos do Canadá a partir de 1º de agosto, alegando preocupação com o fluxo de fentanil entrando nos EUA. Também aventou a possibilidade de aumentar a tarifa básica de 10% sobre países não especificados para até 20%.



Essas declarações renovaram o temor de uma guerra comercial em larga escala, com os mercados enxergando o prazo de 1º de agosto como possível início de uma escalada tarifária global. O índice VIX, conhecido como “índice do medo” de Wall Street, subiu 3,93%, atingindo 16,40 pontos e sinalizando maior aversão ao risco entre investidores.


Analistas alertam para os impactos internos. Segundo Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos CEA, a pressão cambial pode elevar a inflação e afastar investidores estrangeiros. Jeff Patzlaff, planejador financeiro, destaca que setores como o industrial, de materiais e de commodities podem ser fortemente atingidos, o que afetaria a política monetária e poderia levar o Banco Central a manter os juros altos por mais tempo.


O Ministério da Fazenda, no entanto, avaliou que os efeitos das tarifas impostas pelos EUA devem se concentrar em setores específicos, com impacto limitado sobre a estimativa de crescimento econômico para 2025, conforme divulgado em boletim da Secretaria de Política Econômica (SPE).


Em um gesto raro, a China criticou publicamente a postura dos EUA. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, declarou que “tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”, reforçando que o princípio de igualdade soberana e a não interferência são pilares das relações internacionais.



No cenário doméstico, o IBGE informou que o volume de serviços cresceu 0,1% em maio, marcando o quarto mês seguido de alta. O resultado, embora positivo, ficou abaixo da expectativa do mercado, que previa avanço de 0,2%. Mesmo assim, o dado reforça a resiliência da economia.


O Ministério da Fazenda também revisou a projeção do PIB para este ano de 2,4% para 2,5%. Para 2026, a estimativa caiu ligeiramente, de 2,5% para 2,4%.



Com o acirramento do clima comercial, o mundo observa os próximos passos das lideranças internacionais, atentos ao possível desenrolar de um novo ciclo de protecionismo e à volatilidade crescente dos mercados.


Destaques