CEO da Ternium diz que 'vai rever investimentos no Brasil se perder disputa na Usiminas'

A decisão da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que inverteu o rumo de um processo favorável à Ternium, gerou incerteza no conglomerado

Por Plox

14/08/2024 09h03 - Atualizado há cerca de 1 mês

A Ternium, gigante do setor siderúrgico controlada pelo Grupo Techint, está reavaliando seus investimentos no Brasil após uma reviravolta no processo judicial que envolve a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Usiminas. A decisão da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que inverteu o rumo de um processo favorável à Ternium, gerou incerteza no conglomerado, que considera a possibilidade de reduzir sua presença no país.

Foto: Divulgação

Insegurança jurídica ameaça planos de expansão

Durante o Congresso Aço Brasil, realizado em São Paulo, o CEO da Ternium, Máximo Vedoya, expressou preocupação com o impacto da recente decisão do STJ sobre o ambiente de negócios no Brasil. A nova interpretação judicial obriga a Ternium a indenizar a CSN em R$ 5 bilhões, com base no entendimento de que houve uma troca de controle na Usiminas quando a Ternium adquiriu 27,7% das ações da siderúrgica em 2011.

Essa decisão surpreendeu o mercado e a própria Ternium, que já havia vencido a disputa em várias instâncias anteriores, incluindo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Acreditamos que a razoabilidade vai prevalecer, mas se acontecer outra coisa, vamos ter que repensar nossa estratégia no Brasil", afirmou Vedoya.

Revisão de controle na Usiminas e repercussões no mercado

O STJ reverteu uma decisão anterior, alegando que a compra inicial das ações da Usiminas pela Ternium em 2011 representou uma alteração no controle da companhia, o que exigiria a extensão da oferta de compra para os demais acionistas. A CSN, que detinha 17,4% da Usiminas na época, defende essa tese desde o início do processo, mas vinha acumulando derrotas até a recente decisão do STJ.

Hoje, a CSN possui 12,9% da Usiminas, mas está judicialmente obrigada a reduzir sua participação para menos de 5%. A Ternium, por sua vez, consolidou seu controle sobre a Usiminas em julho de 2023, quando adquiriu 61,3% do bloco de controle após uma transação com o grupo NSC, formado por Nippon Steel, Mitsubishi e MetalOne.

Impactos para o futuro dos investimentos no Brasil

A decisão do STJ colocou em dúvida a continuidade dos investimentos da Ternium no Brasil, onde o Grupo Techint já investiu cerca de R$ 23 bilhões desde 2012. "Essa decisão coloca em risco os investimentos da Ternium no país. Hoje, não estamos decidindo nada, mas uma ação negativa nos fará repensar nosso futuro no Brasil", destacou Vedoya.

Além da Usiminas, a Ternium controla a Ternium Brasil, antiga Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), com capacidade de produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano na usina de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O Brasil é um dos mercados mais importantes para o conglomerado, responsável por aproximadamente 50% da produção de aço do grupo, com metade dessa produção sendo exportada para operações na Argentina e no México.

CSN se prepara para desinvestir na Usiminas

Paralelamente, a CSN confirmou que cumprirá a determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Justiça para reduzir sua participação na Usiminas. Contudo, a companhia, liderada por Benjamin Steinbruch, ainda não definiu um prazo para a venda das ações, que são vistas como uma estratégia para reduzir a alavancagem financeira da empresa.

A CSN tem enfrentado dificuldades devido à queda de mais de 30% no valor das ações da Usiminas este ano, o que torna a operação menos atrativa. A venda, porém, pode ajudar a companhia a focar em outros investimentos, como a aquisição de ativos no exterior, que é uma das prioridades estratégicas de Steinbruch.

A disputa judicial entre CSN e Ternium, que já dura mais de uma década, ganhou novos contornos com a recente decisão do STJ, que traz consequências potencialmente significativas para o mercado siderúrgico brasileiro e para o futuro dos investimentos estrangeiros no país. A Ternium, que sempre considerou o Brasil um mercado estratégico, agora se vê diante de um cenário de incerteza jurídica que pode afetar seus planos de expansão e até mesmo sua presença no país.

 

 

 

 

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