Brasil registra primeiro caso de câncer raro ligado a prótese de silicone

Estudo inédito em Barretos identificou carcinoma espinocelular associado a implante mamário; paciente morreu em menos de um ano após diagnóstico

Por Plox

14/08/2025 16h59 - Atualizado há 3 dias

Pesquisadores do Hospital de Amor, localizado em Barretos, São Paulo, documentaram pela primeira vez no Brasil um caso de carcinoma espinocelular relacionado a prótese de silicone. A descoberta inédita, que foi publicada na revista 'Annals of Surgical Oncology', marca um avanço na identificação de um tipo raríssimo de câncer de mama, já observado em apenas pouco mais de 20 mulheres em todo o mundo desde 1992.


Imagem Foto: Sociedade Brasileira de Mastologia


A equipe liderada pelo mastologista Idam de Oliveira Junior não apenas diagnosticou o caso, como também elaborou um método para padronizar o estadiamento e o tratamento dessa forma de tumor. Os especialistas apontam para uma possível relação entre a inflamação crônica da cápsula que envolve o implante e o surgimento do câncer, que transforma células comuns em malignas.



A paciente brasileira, que tinha 38 anos, utilizava próteses de silicone desde os 20. Ela procurou ajuda médica após sentir dores e notar aumento de volume em uma das mamas. Exames revelaram a presença de líquido ao redor do implante e alterações na cápsula. A confirmação veio após uma biópsia. Apesar das intervenções cirúrgicas, incluindo a retirada da prótese e a mastectomia, o tumor reapareceu e ela morreu dez meses depois do diagnóstico, evidenciando a agressividade da doença.



O estudo realizado no país avaliou 17 ocorrências desse câncer raro. A análise mostrou que nove pacientes tiveram recorrência ainda no primeiro ano após serem diagnosticadas, e seis morreram dentro de dois anos. A média de sobrevida global ficou em 15,5 meses, com a sobrevida livre de progressão em torno de 13,5 meses. As metástases atingiram principalmente o fígado e os pulmões.


A partir desses dados, os médicos brasileiros propuseram um novo modelo de estadiamento clínico e cirúrgico específico para esse tipo de tumor. A recomendação principal passou a ser a mastectomia total, com o objetivo de diminuir o risco de recidiva.


\"Devido ao número limitado de ocorrências, os fatores de risco para o desenvolvimento deste tipo de tumor altamente agressivo são desconhecidos. Estamos diante de uma doença de comportamento agressivo. O diagnóstico precoce permite um tratamento mais eficiente com maior sobrevida para a paciente\", destacou o mastologista Idam de Oliveira Junior, em nota divulgada pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)

O alerta dos especialistas vai principalmente para mulheres que possuem próteses mamárias há muitos anos. A orientação é que qualquer sinal de mudança, dor ou inchaço na região seja investigado com atenção. \"A cada ano, temos mais mulheres vivendo por longo tempo com próteses de silicone. Neste sentido, é importante que qualquer alteração apresentada nos implantes seja considerada e investigada\", reforçou Oliveira Junior.


O registro deste caso em território nacional reforça a importância do acompanhamento contínuo de pacientes com implantes, além de chamar atenção para a necessidade de novos estudos sobre esse tipo raro de câncer.


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