Especialistas apontam retração da esquerda nas ruas
Pesquisadores e lideranças históricas avaliam queda na capacidade de mobilização do campo progressista desde o impeachment de Dilma Rousseff
Por Plox
14/09/2025 09h15 - Atualizado há 1 dia
As ruas do país, que em outras épocas foram palco de grandes manifestações organizadas pela esquerda, hoje parecem ter sido dominadas pela direita. Esse cenário ficou evidente no último 7 de Setembro, quando atos em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro tomaram conta das principais capitais. Em Belo Horizonte, a Praça da Liberdade se encheu de apoiadores e reuniu figuras políticas como os deputados Nikolas Ferreira (PL) e Bruno Engler (PL), além de líderes religiosos católicos e evangélicos.

No mesmo dia, um grupo menor se concentrou na Praça Raul Soares, também na capital mineira, em manifestações organizadas por setores da esquerda. Entre os presentes estavam o deputado federal Rogério Correia (PT) e o vereador Pedro Rousseff (PT). A diferença de público se repetiu em São Paulo, onde o governador Romeu Zema (Novo) marcou presença nos atos pró-Bolsonaro, e no Rio de Janeiro.
De acordo com cientistas políticos e lideranças históricas ouvidas, a esquerda perdeu sua força de mobilização ao longo da última década, especialmente após o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Para o professor da UFMG Camilo Aggio, três pontos ajudam a explicar esse esvaziamento: a longa hegemonia petista no governo federal, que reduziu as motivações para protestos; a recente condenação de Jair Bolsonaro, que estimula a militância da direita; e a fragmentação da própria esquerda, que não consegue consolidar uma pauta unificada. $&&$“A esquerda hoje é um arquipélago, um conjunto de ilhas que carece de união”$, destacou o pesquisador.
Outro especialista, Carlos Ranulfo, também professor da UFMG, reforça que a direita tem sido mais eficaz em articular mobilizações, especialmente por meio das redes sociais, enquanto a esquerda não conseguiu manter o mesmo alcance. “Desde o impeachment da Dilma, a esquerda não consegue mais colocar grandes multidões nas ruas. No governo Temer isso não aconteceu, no de Bolsonaro também não, e agora se repete. A direita mantém muito mais capacidade de mobilização”, avaliou.
Já o deputado federal Patrus Ananias reconhece que houve retração no campo progressista, sobretudo em movimentos sociais e sindicatos, que perderam força após as mudanças trabalhistas promovidas durante o governo Temer. O parlamentar acrescenta que o diálogo com a juventude e a relação com setores cristãos também precisam ser retomados. $&&$“Estamos enfrentando no Brasil um processo de direitização de setores da igreja. Nós estamos trabalhando com nossos valores e compromissos, mas o desafio é enorme”$, declarou.
Assim, enquanto a direita consegue manter o ritmo das mobilizações em defesa de sua principal liderança, a esquerda busca caminhos para recuperar a presença popular que já teve nas ruas brasileiras.