Contaminação de órgãos transplantados ocorreu para obter lucro, diz polícia

Em coletiva de imprensa, autoridades de segurança do Rio de Janeiro falaram sobre medidas da Operação Veloz cumpridas nesta segunda-feira

Por Plox

14/10/2024 14h18 - Atualizado há 4 dias

O secretário de Polícia Civil, Felipe Cury, revelou em coletiva de imprensa que a contaminação de órgãos transplantados no Rio de Janeiro este ano ocorreu devido a cortes de gastos no laboratório PCS Lab Seleme. “As informações iniciais colhidas, até o momento, dão conta de que houve uma falha operacional de controle de qualidade nos testes aplicados ao diagnóstico de HIV”, relatou Cury, confirmando que a falha comprometeu a segurança dos transplantes.

Falhas no controle de qualidade

O diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), André Neves, detalhou o que teria acontecido no processo de testagem. Segundo ele, houve uma "quebra do controle de qualidade" visando maximizar os lucros, o que comprometeu a análise dos reagentes. “Os reagentes precisavam ser analisados sistematicamente, diariamente. E houve uma determinação para que essa fiscalização fosse diminuída para uma frequência semanal. Essa flexibilização aumentou o risco de efeitos colaterais, o que resultou no problema grave que estamos investigando”, explicou Neves.

Operação Verum: buscas e prisões

A operação Verum, deflagrada pela Polícia Civil, cumpriu 11 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão. Wellington Vieira, delegado da Defesa do Consumidor, informou que duas pessoas foram presas até o momento: Valter Vieira, sócio majoritário do laboratório, e Ivanilson Fernandes dos Santos, técnico responsável pela testagem do HIV no material de transplantes. "O primeiro é o sócio principal que tinha o poder decisório na pessoa jurídica, e o segundo o técnico contratado para fazer análise clínica no material que vinha da Central Estadual de Transplantes", afirmou Vieira.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 

Investigação em andamento e risco de mais contaminados

A investigação, que ainda está sob sigilo, apura a possibilidade de mais pessoas terem sido contaminadas por outras doenças além do HIV. Aproximadamente 300 pessoas que receberam órgãos estão sendo testadas. Segundo Neves, "isso demanda um pouco de tempo, mas já começou a ser feito e ainda não terminou". Novas prisões e deflagrações não estão descartadas.

A mudança no protocolo de análise, que passou de diária para semanal a partir de dezembro, é o principal foco da investigação. De acordo com Cury, quem for responsável por essa alteração será "devidamente responsabilizado, criminalmente falando".

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