Dólar volta a ultrapassar R$ 6 apesar de intervenção do Banco Central
Moeda norte-americana registra alta de 0,40% e fecha semana com leve desvalorização acumulada
Por Plox
14/12/2024 07h41 - Atualizado há cerca de 12 horas
O dólar voltou a se valorizar no mercado brasileiro e encerrou o pregão desta sexta-feira (13) cotado a R$ 6,0313, o que representa um avanço de 0,40% em relação ao dia anterior. Esta foi a segunda alta consecutiva da moeda americana, que chegou a atingir R$ 6,0776 no início da tarde, antes de perder força após uma intervenção do Banco Central (BC).
O BC realizou um leilão de venda de dólares à vista, o primeiro desse tipo desde 30 de agosto, o que contribuiu para a desaceleração do ritmo de alta. No total, foram negociados 845 milhões de dólares, com nove propostas aceitas e uma taxa de corte de R$ 6,0200. No dia anterior, o BC já havia ofertado 4 bilhões de dólares em dois leilões de linha com compromisso de recompra.
Fatores que impulsionaram a alta do dólar
O cenário externo também pressionou o mercado doméstico. O fortalecimento do dólar no exterior, aliado ao aumento nas taxas dos Treasuries (títulos da dívida americana), afetou negativamente moedas de países emergentes, incluindo o real.
No Brasil, as incertezas fiscais voltaram a pesar sobre os ativos financeiros. O mercado segue atento ao andamento das propostas de ajuste fiscal que tramitam no Congresso. O pacote de medidas, que visa a contenção de gastos públicos, enfrenta resistência de parlamentares, o que pode comprometer a meta de economia planejada pelo governo.
A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de Brasília também gerou apreensão. Após realizar procedimentos médicos para tratar sangramentos intracranianos, Lula apareceu em vídeo nesta sexta-feira (13) caminhando no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e afirmou que "em breve" estará apto a retornar ao trabalho.
Avaliações de economistas sobre o mercado
Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, a semana foi marcada por forte volatilidade nos ativos financeiros brasileiros. Ela destacou que o cenário fiscal e as incertezas políticas influenciaram o câmbio, mesmo após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 12,25%, com a sinalização de mais dois aumentos de mesma magnitude.
Na avaliação da economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, a divergência entre a política fiscal do governo e a política monetária do Banco Central gera "ceticismo" no mercado, resultando em alta dos juros futuros e pressão sobre o real. Ela também apontou que o fluxo cambial foi negativo em 3,3 bilhões de dólares na primeira semana de dezembro, movimento que, segundo ela, está de acordo com o padrão sazonal de fim de ano, quando há maior saída de divisas.
Atuação do Banco Central e expectativa para as próximas semanas
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, avaliou que a intervenção do Banco Central foi necessária para suprir a falta de liquidez no mercado de câmbio, mas descartou a hipótese de que o BC esteja tentando "defender" uma cotação específica. "Não acho que o BC está tentando defender qualquer nível de taxa de câmbio. É que falta liquidez mesmo. O BC agiu de forma correta ao intervir neste momento", afirmou.
Por sua vez, o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, acredita que o volume de dólares ofertado pelo Banco Central indica uma ação pontual para atender à demanda momentânea do mercado, e não uma tentativa de controle da taxa de câmbio. "Um movimento de intervenção verdadeiro seria anunciar um leilão diário de câmbio, como já foi feito no passado. Mas parece que não é o caso", explicou.
Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, já havia afirmado recentemente que as intervenções no câmbio visam corrigir "disfuncionalidades" do mercado, sem o objetivo de fixar um valor específico para o dólar.
Para a próxima semana, a expectativa do mercado se volta à tramitação do pacote fiscal na Câmara dos Deputados. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse na quinta-feira (12) que é "plenamente possível" que o Congresso aprove as propostas de ajuste fiscal antes do recesso parlamentar, que se inicia no próximo dia 20.