Sozinha no mar por três dias, menina de 11 anos é resgatada após naufrágio na Itália
Criança de Serra Leoa enfrentou tempestades e altas ondas antes de ser localizada por embarcação de resgate humanitário
Por Plox
14/12/2024 09h17 - Atualizado há cerca de 7 horas
Uma menina de 11 anos sobreviveu sozinha por três dias à deriva no Mar Mediterrâneo após o naufrágio de uma embarcação que transportava mais de 40 migrantes. A criança foi localizada durante a madrugada e resgatada por um veleiro de uma ONG humanitária alemã. Atualmente, ela está sob os cuidados da Cruz Vermelha na ilha italiana de Lampedusa.
A menina, que é natural de Serra Leoa, utilizou duas câmaras de ar de pneus e um colete salva-vidas para se manter flutuando em meio ao mar agitado. Durante o período à deriva, enfrentou tempestades com ondas de até quatro metros de altura, conforme informações da ONG Compass Collective.
De acordo com Matthias Wiedenlubbert, capitão do veleiro de resgate, a menina foi encontrada por volta das 3h20 (horário local) enquanto a equipe navegava pela região em busca de outros migrantes. “Foi um milagre ter ouvido a voz da menina em alto mar, com o motor de nossa embarcação ligado”, afirmou Wiedenlubbert, que calcula que ela tenha permanecido na água por pelo menos dois dias antes de ser socorrida.
Resgate e cuidados médicos
Assim que foi resgatada, a menina foi levada para a ilha de Lampedusa, que é um dos principais pontos de chegada de migrantes forçados na Europa, dada a sua proximidade com a costa africana. No local, ela passou por exames médicos e foi transferida para um centro de acolhimento de migrantes administrado pela Cruz Vermelha Italiana.
Francesca Saccomandi, voluntária da ONG Mediterranean Hope, visitou a menina no ambulatório e relatou que ela estava calma, embora bastante cansada. "Fui encontrá-la no ambulatório, e ela estava tranquila, esperava vê-la muito mais assustada. Mas ela estava apenas muito, muito cansada”, afirmou Saccomandi à agência ANSA.
Como parte do acolhimento, a menina recebeu um kit infantil, que inclui uma mochila com lápis de cor e um álbum de colorir, uma forma de proporcionar conforto às crianças que chegam à ilha. A jovem serra-leonina também relatou que estava acompanhada do irmão durante a travessia, mas ele permanece desaparecido.
Rota perigosa e operação de busca
A rota marítima que liga a Tunísia, Líbia, Itália e Malta é considerada uma das mais mortais do mundo. Desde 2014, mais de 24.300 pessoas desapareceram ou morreram tentando realizar a travessia, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Após o relato da menina sobre o desaparecimento do irmão, a Itália enviou barcos de patrulha e aeronaves para realizar buscas na área onde a criança foi localizada. O local faz parte de uma das rotas mais movimentadas e perigosas usadas por migrantes forçados que tentam alcançar a Europa.
Cenário migratório na Itália
Dados do Ministério do Interior da Itália indicam que, em 2024, cerca de 64 mil migrantes desembarcaram na costa italiana, uma redução de 58% em relação ao mesmo período de 2023. No entanto, o número de mortes e desaparecimentos ao longo da travessia permanece alarmante. A OIM registrou 1.536 pessoas mortas ou desaparecidas nas águas do Mediterrâneo Central em 2024, enquanto, em 2023, o total foi de 2.526.
A crise migratória no Mediterrâneo segue sendo um desafio humanitário e político para a Europa. Lampedusa, por sua posição geográfica, é frequentemente o primeiro ponto de chegada dos migrantes, que enfrentam condições extremas de risco para buscar uma nova chance de vida no continente europeu.