Alta no preço do café deve persistir até 2026, dizem especialistas
Produção menor, estoques baixos e alta demanda devem manter café caro; Minas Gerais lidera produção no Brasil
Por Plox
15/04/2025 16h08 - Atualizado há 8 dias
A celebração do Dia Mundial do Café, nesta segunda-feira (14), chega em meio a um cenário pouco animador para os apaixonados pela bebida: especialistas indicam que os preços do café devem continuar em alta até, pelo menos, 2026.

Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a colheita da safra 2025/2026, que começa entre abril e maio, deve apresentar uma queda na produção total em comparação com o ciclo anterior. A produção de café arábica, considerado mais sofisticado, deve recuar 13%, enquanto o robusta, de qualidade mais simples, deve crescer 18%. Ainda assim, o volume total será menor do que em 2024.
Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, ressaltou que, diante desse cenário, não há previsão de queda de preços no curto prazo para o consumidor final. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma retração de 4,4% na safra, com recuo de 12,4% no arábica e avanço de 17,2% no robusta. Já a consultoria StoneX estima uma queda menor, de 2,1% na produção geral, com o arábica caindo 13,5% e o robusta subindo 21,9%.
As adversidades climáticas desde 2020 — como secas intensas, geadas e excesso de chuvas — têm comprometido a produtividade das lavouras, impactando diretamente a oferta. Celírio Inácio, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), explicou que a baixa oferta, aliada à alta demanda global, deve manter os preços do arábica em elevação. Com estoques em níveis historicamente baixos, a volatilidade no mercado deve continuar.
Apenas uma colheita bem-sucedida em 2025 e condições climáticas favoráveis no segundo semestre poderiam sinalizar uma queda nos preços em 2026, segundo o Cecafé. Se o mercado também recuar nos preços atuais, o consumidor poderia começar a ver algum alívio nos valores apenas no fim deste ano ou no início de 2026.
Minas Gerais, maior produtor de café do país, lidera a produção nacional da commodity. De acordo com o IBGE, a produção brasileira em 2025 deve superar as 3,2 milhões de toneladas. No entanto, os efeitos já são sentidos nas prateleiras: o café moído teve uma alta de 77,78% nos últimos 12 meses, com 30% de aumento só em 2025, segundo o IBGE. Entre fevereiro e março deste ano, a elevação foi de 8%.
Essa valorização reflete diversos fatores: a menor oferta global (com impacto direto de safras menores no Brasil e no Vietnã), o dólar elevado e especulações nas bolsas de valores. Em 2024, o preço da saca de café chegou ao patamar de US$ 582, maior cotação desde 1977. Atualmente, gira em torno de US$ 476 por saca — ainda bem acima da média histórica.
Embora os preços no varejo tenham subido, o Cecafé afirma que o impacto para o consumidor ainda é menor que o sentido pela indústria. Estratégias de fidelização mantêm os aumentos contidos nos supermercados, mas a tendência é de pressão contínua sobre os preços até o fim de 2025.
Outro elemento que pode influenciar o mercado é a nova taxação dos EUA sobre produtos importados, incluindo o café, estipulada pelo presidente Donald Trump. A alíquota de 10% pode abrir espaço para maior participação do Brasil no mercado norte-americano, uma vez que outros países produtores devem ser mais penalizados. Por outro lado, o aumento nos preços pode reduzir o consumo nos EUA.
Os especialistas alertam que, mesmo com possíveis oportunidades, os efeitos da crise de abastecimento global e as condições climáticas adversas devem seguir ditando o rumo do mercado de café nos próximos meses.