Haitianos e venezuelanos denunciam xenofobia em abrigos do RS

Refugiados relatam condições precárias e tratamento desigual em meio às enchentes

Por Plox

15/05/2024 16h44 - Atualizado há 2 meses

Os imigrantes haitianos e venezuelanos que se refugiaram no Rio Grande do Sul devido às enchentes recentes têm enfrentado xenofobia e discriminação nos abrigos destinados às vítimas da catástrofe climática. Segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o estado gaúcho abriga cerca de 46 mil refugiados, com a maioria sendo venezuelanos (29 mil) e haitianos (12 mil), seguidos por cubanos (1,3 mil).


Foto: Pedro Piegas/PMPA

Anne Milceus Bruneau, presidente da Associação dos Haitianos no Brasil e voluntária em um abrigo na zona norte de Porto Alegre, destacou em entrevista à Agência Brasil que a xenofobia é "muito grande", afetando tanto haitianos quanto venezuelanos. Ela relatou que a comida servida frequentemente está crua, dificultando a alimentação de crianças e adultos.

"Solicitam a troca da comida, mas isso não acontece. Muitas crianças e adultos estão se alimentando mal porque a comida está sendo servida crua," lamentou Anne, que vive no Brasil há quase sete anos.

Além da alimentação inadequada, Anne revelou que os refugiados têm recebido apenas uma escova de dente por família e enfrentado dificuldades no acesso à água. "Eu fiz esse relato e agora estão liberando um pouco mais de água para eles," disse ela. Anne também apontou que as roupas em piores condições são destinadas aos imigrantes e que itens de higiene como desodorantes e fraldas não estão sendo distribuídos de forma equitativa.

"Quando os imigrantes vão pedir algo, às vezes dizem que não tem, mas quando eu ou um representante da associação pedimos, eles entregam para nós e repassamos aos imigrantes," acrescentou Anne.

"Todo mundo é igual nessa situação, não importa a cor da pele, porque estamos todos no mesmo barco," defendeu Anne, que recebe relatos semelhantes de diversos abrigos. A Acnur confirmou que os casos de xenofobia não são isolados. "Não são relatos pontuais. Com a água ainda alta e os espaços de acolhimento improvisados, conflitos e riscos de violações de direitos tendem a aumentar," ressaltou Silvia Sander, oficial de proteção da Acnur.

"Pessoas refugiadas e imigrantes devem ter o mesmo acesso e direitos que os brasileiros também afetados," acrescentou Silvia.

O Rio Grande do Sul foi o estado que mais recebeu venezuelanos durante a Operação Acolhida do governo federal. Dos cerca de 100 mil imigrantes transferidos de Roraima para outras partes do Brasil, aproximadamente 21 mil foram deslocados para o Rio Grande do Sul.

As fortes chuvas no RS forçaram 614 mil pessoas a abandonarem suas casas, com 76 mil em abrigos e outras 538 mil alojadas em casas de parentes ou amigos, conforme o último boletim da Defesa Civil divulgado ao meio-dia desta quarta-feira (15).

O Banco Mundial estima que, até 2050, cerca de 17,1 milhões de pessoas serão deslocadas internamente em seus países na América Latina devido às mudanças climáticas, representando 2,6% da população latino-americana.

 

 

 


 

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