Crise nos Correios reacende debate sobre privatização e revela perdas bilionárias
Estatal tenta cortar custos e prorroga programa de demissão voluntária para evitar prejuízo de R$ 3 bilhões em 2025
Por Plox
15/05/2025 08h56 - Atualizado há 1 dia
Com um prejuízo acumulado de R$ 2,6 bilhões em 2024 e projeções ainda mais sombrias para 2025, os Correios decidiram prorrogar até o dia 18 de maio o programa de demissão voluntária. A medida faz parte de uma série de ações adotadas para evitar que as perdas cheguem à marca de R$ 3 bilhões no próximo ano. A meta é economizar R$ 1,5 bilhão com cortes de pessoal e redução de custos operacionais.

A crise expõe uma oportunidade perdida de privatização, apontada por especialistas como uma possível solução para modernizar e tornar eficiente a estatal. Os próprios funcionários, que resistiram ao processo de venda da empresa, são vistos como parte do impasse que levou à atual situação, em meio a mudanças profundas no setor postal. O foco do setor passou da correspondência tradicional para a logística e entrega de encomendas, setor onde os Correios enfrentam concorrência acirrada de empresas como Amazon, Mercado Livre e DHL.
Além da demissão voluntária, os Correios pediram que seus funcionários adiem as férias de 2025 para 2026 e aceitem a redução da jornada de trabalho com corte proporcional de salários. A estatal possui 11,7 mil agências, 25 mil veículos próprios e presença em todos os municípios do país, mas enfrenta problemas históricos, como greves, escândalos de corrupção, déficits contínuos e perda de credibilidade. Cerca de 85% das agências operam no vermelho.
O presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, justificou parte do prejuízo com os investimentos realizados nos últimos dois anos: cerca de R$ 1,6 bilhão em tecnologia, infraestrutura e renovação de frota. No entanto, os custos aumentaram em mais de R$ 700 milhões por conta de reajustes salariais e pagamentos de precatórios, enquanto a receita caiu R$ 335 milhões em 2024.
A crise foi agravada pela chamada “Taxa das blusinhas”, que provocou queda de R$ 2,2 bilhões em receitas com remessas de encomendas internacionais. A empresa também enfrenta pedidos de investigação no Congresso e crescentes pressões para revisão de seu modelo de negócios.
Enquanto isso, exemplos internacionais como o da DHL mostram que a privatização pode ser viável e bem-sucedida. A empresa alemã surgiu da antiga Deutsche Bundespost, privatizada na década de 1990 e transformada na Deutsche Post, com a DHL se tornando líder mundial em logística, presente em mais de 220 países, com cerca de 550 mil funcionários e faturamento superior a € 60 bilhões.
No Brasil, qualquer tentativa de privatizar os Correios enfrenta uma barreira constitucional. A Constituição Federal exige que a União mantenha o serviço postal, o que significa que a mudança dependeria de uma proposta de emenda constitucional (PEC) aprovada pelo Congresso Nacional. Enquanto o impasse persiste, os Correios seguem operando com prejuízos e baixa produtividade, deixando em aberto o futuro da empresa.