Estudo revela quando sintomas do Alzheimer genético devem aparecer
Pesquisa belga aponta relação entre disfunção de enzima cerebral e idade de início da doença hereditária
Por Plox
15/05/2025 07h20 - Atualizado há 2 dias
Cientistas do Centro de Pesquisa do Cérebro e Doenças VIB-KU Leuven, na Bélgica, revelaram um importante avanço para a medicina ao identificarem uma ferramenta capaz de prever quando os sintomas do Alzheimer genético tendem a se manifestar.

Esse tipo específico da doença, conhecido como Doença de Alzheimer Autossômica Dominante (DAAD), representa cerca de 1% dos casos e se manifesta de forma precoce, antes dos 60 anos. Ele é provocado por mutações nos genes APP, PSEN1 e PSEN2. Até então, apesar de essas mutações serem conhecidas, ainda não se sabia exatamente como elas interferiam no início da enfermidade.
De acordo com a médica geriatra Cláudia Caciquinho, a pesquisa se concentrou na análise da enzima gama-secretase, responsável pelo processamento da proteína precursora amiloide. O estudo demonstrou que a disfunção dessa enzima tem relação direta com o início dos sintomas: quanto maior a alteração na gama-secretase, mais cedo os sinais do Alzheimer hereditário aparecem.
A proteína precursora do amiloide, essencial para o funcionamento cerebral, quando processada de forma incorreta pela gama-secretase, dá origem aos fragmentos beta-amiloides. Esses fragmentos se acumulam e formam as chamadas placas senis — um dos principais indicativos patológicos do Alzheimer.
O estudo, publicado no dia 26 de abril na revista científica Molecular Neurodegeneration, mostra que essa ferramenta de análise enzimática pode prever a progressão da doença independentemente do gene afetado, seja APP, PSEN1 ou PSEN2. Isso significa que, mesmo com diferentes mutações genéticas, a lógica da previsão permanece a mesma.
Além do valor clínico para diagnóstico precoce, essa descoberta também tem implicações promissoras para novos tratamentos. Hoje, os medicamentos mais comuns apenas melhoram temporariamente o funcionamento dos neurônios. Já os mais recentes, como os anticorpos monoclonais lecanemab e donanemab, retardam a progressão da doença, mas não a curam e ainda enfrentam limitações, como efeitos colaterais severos e alto custo.
Segundo Caciquinho, entender com mais profundidade como a gama-secretase se comporta pode levar ao desenvolvimento de terapias que modulam essa enzima, corrigindo o processamento da proteína precursora e reduzindo a formação de beta-amiloides — o que pode significar uma redução significativa no avanço do Alzheimer genético.