Casos de violência contra o idoso crescem na pandemia
Somente nos cinco primeiros meses de 2021, os registros de violência contra o idoso já ultrapassaram todo o ano de 2020
Por Alexsander Brandão
15/06/2021 15h34 - Atualizado há mais de 3 anos
Nesta terça-feira (15) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa. Diversas campanhas pelo mundo são feitas para prevenir as agressões e incentivar denúncias. A data ganha ainda mais relevância em tempos de pandemia. Somente nos cinco primeiros meses de 2021, os registros de violência contra o idoso já ultrapassaram todo o ano de 2020. Os dados são da Central Judicial do Idoso (CJI).
De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria dos casos de violência contra os idosos tem um familiar como autor, com as agressões ocorrendo na casa da vítima em 90% das vezes. As reclamações que mais ocorrem são a restrição de convívio social, falta de assistência, em diversas áreas, agressões verbais e exploração financeira.
Pelo fato da vítima, na maioria das vezes, ter uma ligação com o autor, seja ela física, emocional ou até de dependência, as denúncias podem ser dificultadas por este motivo. Uma idosa, de 76 anos, moradora do bairro Canaã, em Ipatinga, Minas Gerais, relatou à reportagem do Plox que já sofreu agressões verbais e exploração financeira de seu filho mais novo, há oito anos. Ela disse que não denunciava por não acreditar estar sofrendo alguma violência por parte de seu filho.
“Eu não acreditava que sofria violência de meu filho, ele nunca me bateu, mas ficava agressivo toda vez que eu negava dinheiro a ele. Começava a gritar, xingar e até já me ameaçou dizendo que me deixaria sozinha”, disse a idosa.
Também por depender dos cuidados do filho, a mulher não denunciava. “Ele é uma boa pessoa, cuidava de mim, mas tudo tinha que ser da forma que ele quisesse e quando queria”. A idosa contou que somente foi perceber o risco que estava passando quando seu filho gastou toda sua aposentadoria e ela não teve condições de comprar os remédios que necessita tomar.
“Foi aí que liguei para meu filho mais velho e contei tudo o que estava acontecendo, ele veio me buscar, arrumou minhas malas e me levou para morar com ele. Minhas duas filhas também ficaram sabendo do que tinha acontecido e me apoiaram. Hoje, percebo que sofria abuso do meu filho e era refém de um sentimento de mãe e da dependência que tinha dele”, afirma a mulher.
Em alusão à data, a Prefeitura de Ipatinga começou nessa segunda-feira (14) e vai realizar até o dia 18 de junho uma série de atividades. A programação conta com várias atrações para a terceira idade. São multiplicadas informações técnicas visando uma melhor qualidade de vida, além de ser abordada a convivência familiar e comunitária da pessoa idosa como estratégia de enfrentamento às violências. A programação da Semana conta com apoio e coordenação de diversos órgãos e entidades, além da Secretaria de Assistência Social e do Conselho Municipal do Idoso.
A secretária de Assistência Social, Jany Mara Bartolomeu, considera que esta é uma oportunidade especial para mostrar à sociedade o valor do idoso. “Queremos sensibilizar a todos sobre a questão do respeito, das políticas públicas indispensáveis para essa parcela tão importante da população”, explicou.
Estatuto do Idoso
A data foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa, em 2006. No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 2003) considera violência contra o idoso qualquer ação ou omissão que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.
Os idosos em números
Levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os idosos devem representar 25,5% da população brasileira até 2060. Hoje, o Brasil tem 29,9 milhões de idosos, de acordo com informações disponíveis no site World Health Organization (WHO).
Para denunciar de forma anônima qualquer tipo de violência contra os idosos, o telefone é o 100.