Médico prefeito faz vídeos de pacientes nuas durante abusos sexuais

As denúncias são antigas e à época a esposa do médico, que também já foi prefeita da cidade, o defendeu

Por Plox

15/07/2019 08h52 - Atualizado há quase 5 anos

O médico e prefeito de Uruburetama, Ceará, é acusado de abusar sexualmente de pacientes.

Ao programa Fantástico, exibido pela TV Globo, 11 mulheres relataram que buscaram ao médico, José Hilson Paiva, devido a reputação que ele possuía na cidade. 

Uma das vítimas declarou em entrevista que foi abusada quando tinha 14 anos. Hoje em dia, maior de idade, ela relatou nunca ter contado a ninguém e que continuava a se consultar com ele porque era o único ginecologista de Uruburetama-CE.

"Ele sempre trancava a porta, mandava a gente entrar e mandava a gente tirar a roupa. Pegava no seio, ficava pegando no corpo da gente, colocava o pênis dele na gente.", declarou a jovem.

O site G1 afirmou que teve acesso a 63 videos do acusado com pacientes. Em um dos vídeos, o médico aparece com a boca nos seios das pacientes, relatando ser um procedimento para ver se há secreção. “Diminuindo, melhorou", dizia ele após o “procedimento”.

(Foto: reprodução/TV)

(Foto: reprodução/TV)

Antônio José Salomão, secretário-geral da Associação Médica Brasileira, assistiu aos vídeos e disse que, em sua concepção, em nenhuma das imagens se mostra um procedimento médico. "Em nenhum momento da humanidade existe esse procedimento. Isso é asqueroso”, afirmou ele.

Para Diogo Leite Sampaio, vice-presidente da associação: "ele está se aproveitando da paciente. Ele não está examinando, procurando nenhum problema na paciente. Isso é crime.", disse.

Uma das vítimas contou, em entrevista ao programa, que em 2012 procurou o médico, pois não conseguia engravidar. Ela nunca havia feito exame ginecológico, no vídeo ela aparece nua, no consultório particular em que ele atua até hoje. 

"Ele pegava nos seios e pediu pra fazer sexo oral com ele", lembra a paciente. Ela o indagou sobre qual era a necessidade, e como resposta obteve: "que era o que o médico fazia. Que ele tinha que ver a minha sensibilidade. Eu disse pra ele que não, que eu não queria.", relatou a vítima.

Posteriormente, no vídeo, o médico coloca a paciente de costas apoiada na maca. "Ele começou a mexer detrás de mim. Ele dizia: 'você tem que me ver como médico. Você não pode me ver como um homem. Eu sou seu médico'.", declarou a paciente.

De acordo com ela, o abuso lhe causou traumas.”Eu era uma pessoa que achava graça do nada, sabe? Agora todo mundo acha estranho. Vem falar comigo e eu estou séria. Eu não consigo mais brincar com ninguém", comenta.

Segundo uma outra paciente que aparece nos vídeos gravados pelo médico, ela foi abusada em 2017. O crime mostra o mesmo tipo de abuso: a paciente nua, de costas, e ele dizendo que está fazendo um exame. "Isso tá muito inflamado, mulher", relata ele.

"Ele introduziu algo na minha vagina nessa hora. Ele vai levando na lábia", conta a vítima. Ela informou que não denunciou, mas que faz tratamento com psicólogo e psiquiátrico devido ao trauma. "Eu me sinto nua e despida, como se a culpa fosse minha", afirma.

A mulher do médico prefeito, Maria das Graças Cordeiro de Paiva, também já assumiu a Prefeitura de Uruburetama por dois mandatos, entre 1997 e 2004. Posteriormente, Hilson foi vice-prefeito entre 2013 e 2016.

Em campanha mais recente, que terminou com ele eleito prefeito pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), Paiva falava em lutar pela saúde pública. "Nós precisamos pensar no nosso povo. No povo de Uruburetama. O povo de Uruburetama tem que ser respeitado.", discursou.

O prefeito enfrentou uma crise quando um dos vídeos com as relações abusivas que ele mesmo gravou foi divulgado na imprensa em 2018. Cinco mulheres procuraram a polícia e denunciaram o médico por crimes sexuais à época. A ex-prefeita saiu em defesa do marido, dizendo que houve relação extraconjugal, mas não um estupro ou abuso. "Eu quero saber qual é o homem que não trai sua esposa. Eu não conheço no Brasil", afirmou Maria das Graças.

O prefeito entrou na justiça contra 4 das 5 pacientes alegando calúnia e difamação. Três desistiram de denunciar o médico para evitar serem processadas. A única que mantém as acusações disse ter sido abusada em 1994.

"Para o processo [de calúnia e difamação contra as pacientes] ser arquivado, as vítimas teriam que pedir desculpa pra ele. Quando chegou na minha hora, eu disse: 'eu não vou pedir desculpa, você quem deve me pedir desculpa'”, afirmou a denunciante.

José Cléber Moura, juiz do processo, não quis falar sobre o caso.
 

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