Bromélia da Amazônia pode ser alternativa ao plástico do petróleo

As mudas geradas em laboratório são de curauá branco, que possui maior capacidade de perfilhamento em comparação ao curauá roxo

Por Plox

15/07/2024 13h20 - Atualizado há 7 meses

Pesquisas realizadas com o curauá (Ananás erectifoliu), uma espécie de bromélia nativa da Amazônia semelhante ao abacaxi, têm demonstrado um alto potencial como alternativa sustentável para substituir o plástico de origem petroquímica. O Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), em Manaus, está conduzindo um projeto-piloto com produtores da agricultura familiar para implantação desta tecnologia.


Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Projeto-piloto integra produtores e indústria

Por meio de um acordo de cooperação com várias instituições, o CBA fornece mudas, capacita os produtores no plantio e na produção da fibra e estabelece conexões com empresas interessadas na fabricação de bioplásticos. Simone da Silva, pesquisadora e gerente da Unidade de Tecnologia Vegetal do CBA, explicou: "A nossa ideia é o desenvolvimento das cadeias produtivas e levar desenvolvimento, renda e um apelo social e ambiental para o interior do nosso estado. Já tem até patentes com coletes balísticos, vigas para edifícios, antiterremoto, tudo por conta da grande elasticidade e resistência dessa fibra".

Vantagens econômicas e sustentáveis do curauá

O curauá se destaca pela sua viabilidade econômica e interesse industrial, substituindo o polietileno petroquímico e outras fibras naturais como a malva e a juta, normalmente importadas de Bangladesh. Caio Perecin, diretor de Operações do CBA, afirmou: "É uma espécie nativa da Amazônia que é pouco difundida e tem bastante interesse comercial. A fibra é a opção natural com maior resistência mecânica que se conhece hoje, de acordo com os nossos resultados de pesquisa".

Facilidade de cultivo e colheita

Adaptado às características de clima e solo da Amazônia, o curauá prefere solo não encharcado, ácido e pouco fértil. Seu cultivo é viável em áreas sombreadas e com outras espécies, sem necessidade de queimada ou derrubada. O plantio pode ser realizado em qualquer época do ano, facilitando sua integração em sistemas agroflorestais. Simone da Silva destacou que o produtor não precisa abandonar suas culturas tradicionais e pode consorciar o curauá com plantações de açaí, macaxeira, mamão e maracujá.

Beneficiamento da fibra e segurança no processo

O beneficiamento da fibra de curauá pode ser feito pelo próprio produtor com equipamentos adaptados para o tamanho da fibra, inicialmente desenvolvidos para o sisal. Simone da Silva garante que a máquina é segura e não apresenta riscos no manuseio. "A nossa ideia é que o produtor não comercialize a folha, mas que, minimamente, ele forneça a fibra, gerando o maior valor agregado possível para ele", acrescentou.

Impacto econômico e mercado

As mudas geradas em laboratório são de curauá branco, que possui maior capacidade de perfilhamento em comparação ao curauá roxo. A primeira colheita ocorre entre o décimo e o décimo segundo mês após o plantio, com três a quatro colheitas anuais a partir do segundo ano. Simone da Silva explica que as plantas oriundas de cultura de tecido têm um efeito residual dos hormônios usados no laboratório, resultando em mais brotos e maior produtividade para o produtor.

Embora o mercado do curauá ainda esteja em desenvolvimento, há grande interesse industrial. "O que os setores interessados dizem é que, como pagam muito caro por uma fibra de juta e malva, por exemplo, que vem de Bangladesh, eles estão dispostos a pagar o mesmo valor na fibra de curauá, que pode gerar entre R$ 9 e R$ 10 o quilo da fibra", concluiu Simone da Silva.

 

 

 

 

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