Cansaço mental constante pode ser sinal de infobesidade
Especialistas apontam que o excesso de estímulos e dados na internet está afetando o cérebro e a saúde emocional das pessoas
Por Plox
15/07/2025 07h27 - Atualizado há cerca de 15 horas
A mente humana tem enfrentado um desafio crescente nos últimos anos: o bombardeio constante de informações digitais. Esse fenômeno, conhecido como infobesidade, tem se tornado uma preocupação recorrente entre especialistas da saúde, que alertam para os efeitos colaterais dessa sobrecarga cognitiva.

A infobesidade é definida como a ingestão excessiva de dados e conteúdos, muitas vezes irrelevantes, que saturam o cérebro e dificultam a concentração, o foco e a memorização. O neurologista Ricardo Dornas compara o fenômeno à tentativa de beber água de uma mangueira de incêndio, explicando que consumimos, em média, 34 GB de informações por dia — um volume impossível de ser processado com clareza.
Esse excesso afeta diretamente regiões cerebrais como o córtex pré-frontal, responsável pela atenção, o hipocampo, ligado à memória, e o sistema límbico, que regula emoções. Como consequência, surgem sintomas como fadiga mental, perda de produtividade, dificuldade de concentração e sensação constante de cansaço.
A psiquiatra Cintia Braga destaca que muitos pacientes relatam insônia, irritabilidade, dores de cabeça e a sensação de “mente cheia”. Ela explica que o cérebro acaba pulando de uma tarefa para outra sem concluir nenhuma, especialmente quando exposto a notificações e múltiplas plataformas ao mesmo tempo. Esses são sinais claros de que o indivíduo pode estar absorvendo mais informações do que consegue lidar.
Embora o termo infobesidade já seja discutido desde 2012, sua relevância aumentou significativamente com a pandemia da Covid-19, período em que houve um crescimento exponencial do consumo de conteúdos online. A OMS classificou esse fenômeno como infodemia: uma explosão de informações — nem sempre confiáveis — dificultando o acesso a dados verídicos.
O físico espanhol Alfons Cornellá já havia antecipado esse cenário nos anos 1990 ao criar o termo “infoxicação”, uma junção de informação e intoxicação. A ideia era justamente ilustrar como o excesso de conteúdos diários, sem tempo para análise crítica, compromete o equilíbrio mental das pessoas.
Diante desse cenário, os especialistas sugerem medidas práticas para reduzir os impactos da infobesidade. A psicóloga Maria Adelaide Ribeiro defende a importância de filtrar o que se consome, analisando se a informação traz algum benefício real. Dornas recomenda limitar as fontes de informação, desativar notificações desnecessárias e estabelecer períodos diários de desconexão digital.
Outras ações recomendadas incluem atividades físicas, como caminhadas, que aumentam a neurogênese no hipocampo, e práticas como meditação mindfulness, que fortalecem áreas do cérebro responsáveis pelo controle cognitivo. Além disso, garantir um sono de qualidade entre sete e nove horas por noite é essencial para que o cérebro consiga se recuperar e processar adequadamente as informações do dia.
Cintia Braga reforça que a solução passa por resgatar hábitos analógicos: fazer pausas reais ao longo do dia, interagir presencialmente com outras pessoas e se desconectar, nem que seja por alguns minutos, das telas e das redes.
O impacto da infobesidade também atinge o mundo corporativo, especialmente as marcas que utilizam as redes sociais para promover seus produtos. Segundo Thiago Muniz, CEO da Receita Previsível, muitas empresas copiam estratégias sem considerar a identidade da marca, o que resulta em campanhas ineficazes e esquecidas pelo público.
Muniz aconselha que pequenas e médias empresas priorizem dois canais principais: um consolidado e outro emergente, otimizando recursos sem depender dos algoritmos. Ele também destaca a importância da constância na publicação de conteúdos e da autenticidade na comunicação como formas de se destacar em meio ao excesso de dados na internet.
Enquanto a fuga completa do ambiente digital é praticamente impossível, especialmente para quem trabalha com informação, especialistas concordam que a chave está em desacelerar, selecionar com critério o que se consome e criar rotinas que permitam momentos de descanso mental. A saúde agradece.