Taxa de escolarização infantil em Minas é de apenas 34% e preocupa especialistas
Estado tem índice abaixo da média nacional e segunda maior fila por vagas em creches públicas do país
Por Plox
15/07/2025 07h06 - Atualizado há 2 dias
A taxa de escolarização de crianças de 0 a 3 anos em Minas Gerais está abaixo da média brasileira. Enquanto o índice nacional atinge 39%, em Minas o número é de 34%. Além disso, o estado figura na segunda posição entre os que mais têm crianças aguardando por vagas em creches públicas.

O estudo “Retrato da Educação Infantil no Brasil”, elaborado pelo Gabinete de Articulação para a Efetividade da Política da Educação (Gaepe), revela que São Paulo lidera a fila de espera com 88.854 crianças, seguido por Minas Gerais, com 63.470. Depois aparecem Paraná (59.373), Pará (48.582) e Rio de Janeiro (39.327).
Essa carência de acesso à educação infantil reflete diretamente no desenvolvimento das crianças. A promotora Giselle Ribeiro de Oliveira, coordenadora do CAO-Educ, enfatiza que os primeiros três anos de vida são fundamentais para o cérebro. Segundo ela, o ingresso precoce na creche contribui para o sucesso na alfabetização e no aprendizado de leitura e matemática. Fora desse ambiente, as crianças podem sofrer com atrasos de linguagem, dificuldade de socialização e menor desenvolvimento emocional.
Giselle reforça que a creche vai além do aspecto educacional, sendo também um espaço de cuidado e estímulo integral. Ela destaca que a desigualdade social é agravada pela dificuldade de acesso às creches públicas, já que famílias de baixa renda são as mais afetadas. \"As faixas mais baixas não têm acesso à creche e provavelmente nunca vão conseguir sair da classe mais baixa\", alerta.
A realidade enfrentada por Ângela Aparecida das Graças, moradora de Caranaíba, ilustra esse cenário. Mãe de quatro filhos, ela conta que Daniel, de 8 anos, não frequentou creche por falta de unidades no município. Como consequência, ele entrou no ensino fundamental com dificuldades na escrita. Com renda limitada a um benefício de um salário mínimo e doações, Ângela não teve condições de contratar serviço de babá. Sem creche, cuidar dos filhos e atender às demandas médicas dos que enfrentam problemas de saúde tornou-se ainda mais difícil.
A cidade de Caranaíba é uma das 55 em Minas Gerais que não têm nenhuma creche pública, mesmo com cerca de 6% da população formada por crianças de 0 a 6 anos. Para a conselheira nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Ângela Mathylde, isso representa a perda de uma fase crucial na formação infantil. Segundo ela, as creches são locais onde se trabalha a observação, individualidade e percepção da criança, elementos essenciais para sua evolução.
O brincar, destaca Ângela, também tem papel pedagógico: “O faz de conta organiza o caos interno, ajuda a resolver conflitos e faz com que as crianças experimentem papéis sociais como pai, mãe e professores”. Além disso, é no ambiente da creche que a criança aprende sobre limites, regras e convívio social.
Para a especialista, a ausência dessa formação inicial pode refletir na vida adulta com dificuldades emocionais e transtornos de desenvolvimento. “O educador atua como suporte para o futuro. O que é bem trabalhado na infância ajuda a formar um adulto estruturado”, afirma.
Questionada, a prefeitura de Caranaíba não se pronunciou até o fechamento da reportagem. Já a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) destacou que, conforme a Constituição, a educação infantil é responsabilidade dos municípios, mas que atua de forma cooperativa com repasses de recursos. Desde 2021, R$ 1,2 bilhão foi destinado a 163 municípios para obras, reformas, mobiliário e equipamentos.
O Ministério da Educação, por sua vez, informou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contempla a construção de creches e pré-escolas, atendendo cerca de 110,6 mil crianças em 1.177 municípios. Minas Gerais possui 117 obras incluídas no Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica, com entrega prevista para 2025.