Ex-ministro de Lula e ex-governador são contratados para defender fábrica de cigarros

O ex deputado federal e ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), também foi contratado.

Por Plox

15/10/2021 11h11 - Atualizado há mais de 2 anos

Com objetivo de atuar diante da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o ex-ministro do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do Tribunal de Contas Da União, José Múcio Monteiro, foi contratado pela fabricante de cigarros Philip Morris. 
O ex deputado federal e ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB),  também foi contratado.

José Múcio Monteiro era deputado pelo PTB quando, em 2007, foi convocado pelo então  presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o cargo de ministro das relações institucionais do governo. Em 2009, o ex-presidente Lula indicou Múcio para o Tribunal de Contas da União. Na contabilidade da indústria de tabaco Philip Morris, consta a doação de R$40.000,  em 2014, ao diretório do partido PTB de Pernambuco, e mais R$60.000 para serem divididos entre o PTB do Rio Grande do Sul e do Rio Grande do Norte. Naquele mesmo ano, o PSDB, partido de Cássio Cunha Lima, também recebeu da indústria de tabaco a quantia de R$200.000 de doação.

 

Ex-ministro de Lula e ex-governador são contratados para defender fábrica de cigarros
À esquerda, o ex-senador Cássio Cunha Lima ; à direita, o ex-ministro José Múcio Monteiro . Foto: divulgação/Atricon/23.nov.2017


José Múcio Monteiro, deixou Tribunal de Contas Da União em dezembro de 2020, quando se aposentou. Em março de 2021, ele foi contratado pela fábrica de cigarros. A multinacional tinha acabado de ter um de seus produtos impedidos de serem comercializados no Brasil pela Anvisa. Tratava-se de um acessório para o cigarro eletrônico da companhia.

Cássio Cunha Lima atua junto à empresa desde 2019. A multinacional fabricante de cigarros tenta reverter uma decisão da avisa que, desde 2009, proíbe a venda, a importação e a propaganda dos cigarros eletrônicos no país. Somente em 2021, a Anvisa já negou, por duas vezes, o registro de um produto usado para abastecer o cigarro eletrônico da empresa. O artefato em vez de queimar o tabaco apenas o aquece. E, por esse motivo, é chamado de “produtos de tabaco aquecido”. A expectativa é que até o final deste ano a Anvisa  tenha concluído o processo geral que dispõe sobre a regulação dos cigarros eletrônicos no Brasil, tanto os fabricados pela Philip Morris, como de outros apresentados por outras empresas.

Os políticos contratados tem feito reuniões com executivos da multinacional. O portal de notícias de São Paulo, Uol, divulgou que no dia 5 de março Múcio e Cássio Cunha Lima se reuniram com Cristiane Jourdan Gomes, diretora da multinacional. Isso aconteceu poucos dias após a Anvisa ter negado os interesses da Philip Morris. Nas declarações de José Múcio Monteiro, ele confirma ter participado da atividade no mês de março e que de fato foi contratado pela multinacional para fazer “consultoria e relações institucionais”.

A Philip Morris tem reiteradamente apresentado recursos junto a Anvisa, para liberar os seus produtos no país.


O consumo do tabaco e a conscientização sobre as doenças causadas


Segundo dados da  Pesquisa Especial de Tabagismo - PETab: relatório Brasil, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), desde 2008, a população de ex-fumantes no Brasil superou a de fumantes. Mais de 25 milhões de brasileiros abandonaram o cigarro.

Com uma maior conscientização das pessoas para o malefício do consumo de cigarros e semelhantes, a indústria do tabaco tem investido pesado para manter seus lucros. Com a proibição das propagandas, que associam sempre  o cigarro às pessoas “vitoriosas”, campanhas de conscientização e a divulgação das doenças causadas pelo fumo, o hábito tem diminuído ano após ano.


Narguilé, o novo perigo entre jovens e pessoas “descoladas”

Enquanto o consumo de cigarro cai no Brasil, um novo inimigo da saúde emerge, principalmente entre os jovens das capitais e grandes cidades. O narguilé é divulgado nas redes sociais. Tal como era feito com o cigarro, seu uso também é associado a uma vida de “sucesso”. O narguilé é uma espécie de cachimbo de água e utilizado para fumar tabaco. O fumo é flavorizado e a ele são adicionados  sabores como menta e até maçãs. Esse cachimbo é normalmente usado no centro de uma roda de amigos e “chupado” coletivamente. A lojas que vendem o produto faz uso de propaganda nas redes sociais. As peças sempre querem associar seu consumo a uma vida de confraternização entre amigos bem sucedidos e pessoas “descoladas”. A ideia é deixar os que não usam  o produto como se estivessem “fora do círculo”. 

 

Narguilé, o novo perigo entre jovens e pessoas “descoladas”
Uma mangueira é usada para compartilhar a fumaça entre os usuários - foto: Pixabay


As empresas de narguilé costumam contratar jovens populares nas redes sociais para, assim, aumentarem mais o consumo dos produtos e consequentemente os lucros. Uma das estratégias é colocar mesas de narguilé em bares, restaurantes e boates. Em Brasília, por exemplo, a reportagem do PLOX constatou ter ali umas das maiores concentrações de locais que oferecem o produto.
 

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