Coreia do Norte intensifica tensão ao explodir estradas em direção ao Sul

Explosão das principais rodovias que ligam os dois países aprofunda separação física e simbólica da península coreana, em meio à escalada de tensões

Por Plox

15/10/2024 11h17 - Atualizado há 5 dias

A Coreia do Norte realizou, nesta terça-feira (15/10), a explosão de rodovias cruciais que conectavam seu território à Coreia do Sul, aprofundando a separação física e simbólica entre os dois países, que permanecem tecnicamente em guerra desde o fim das hostilidades na Guerra da Coreia (1950-1953). A destruição das vias Gyenongui e Donghae, localizadas a apenas 10 metros da linha de demarcação militar, marca mais um capítulo na escalada de tensões entre as nações.

Foto: reprodução/ CNN

Escalada militar e demonstrações de força

A decisão de explodir as estradas ocorre após a Coreia do Norte ter declarado, no ano passado, que considerava a Coreia do Sul um "Estado hostil". Esse anúncio foi parte de um movimento mais amplo de Pyongyang para desfazer qualquer tentativa de reaproximação ou unificação da península. A explosão das rodovias, seguida pela utilização de escavadeiras para concluir a destruição, foi confirmada pelo Estado-Maior sul-coreano. Em resposta, os militares de Seul dispararam tiros de advertência ao longo da Zona Desmilitarizada (DMZ).

Ainda não há informações claras sobre se trechos das ferrovias também foram afetados. Historicamente, essas ligações entre o Norte e o Sul eram vistas como um símbolo de esperança para uma eventual reunificação, especialmente a linha ferroviária Gyenongui, reaberta em 2017 para transporte de carga e passageiros. Contudo, o serviço nunca se concretizou plenamente, e a pandemia de Covid-19 acabou selando o isolamento da Coreia do Norte.

Pressão militar e diplomática sobre os EUA e a Coreia do Sul

A atual postura agressiva de Pyongyang tem como objetivo pressionar os Estados Unidos, principais aliados de Seul, a retomar negociações sobre a questão nuclear. Desde o fracasso das cúpulas entre Kim Jong-un e o ex-presidente Donald Trump em 2018 e 2019, as conversas estão estagnadas. Nesse cenário, a Coreia do Norte intensificou os testes de mísseis balísticos com capacidade nuclear, tentando forçar os EUA a negociarem em seus termos.

Como resposta, Washington fortaleceu sua aliança militar com a Coreia do Sul. Além de intensificar exercícios conjuntos, os Estados Unidos deram assento aos sul-coreanos no processo de decisão em caso de guerra nuclear. Apesar de a Coreia do Sul não abrigar mais armas nucleares americanas desde a Guerra Fria, a Coreia do Norte possui cerca de 50 ogivas nucleares, conforme os cálculos estimados.

Foto: reprodução/ CNN

Impactos da separação física e o simbolismo militar

A destruição das rodovias carrega um forte simbolismo, não apenas por interromper qualquer possibilidade de cooperação entre os países, mas também por significar uma barreira física contra uma eventual invasão militar. No entanto, especialistas apontam que, em um cenário de guerra moderna, o combate seria dominado por ataques aéreos, mísseis e artilharia, reduzindo a importância estratégica dessas vias terrestres.

Pyongyang já havia dado outros sinais de sua disposição de cortar relações com o Sul. Em 2020, durante a pandemia, o governo norte-coreano destruiu o escritório de ligação na cidade fronteiriça de Kaesong, citando a frustração com desertores que enviavam panfletos contra o regime. Desde o início do armistício, aproximadamente 30 mil norte-coreanos fugiram para o Sul.

Kim Yo-jong intensifica retórica contra o Sul

As tensões também foram alimentadas recentemente por declarações de Kim Yo-jong, irmã influente de Kim Jong-un. Na última sexta-feira (11/10), ela acusou a Coreia do Sul de enviar drones para espionar a capital norte-coreana, alertando para um "desastre horrível" caso isso se repetisse.

A retórica belicosa norte-coreana se intensifica em um momento em que o foco global está voltado para outras regiões de conflito, como o Oriente Médio e a Ucrânia. A escalada com o Sul e os EUA também coincide com o fortalecimento dos laços entre Pyongyang e Moscou.

Parceria estratégica com a Rússia e envio de armas à Ucrânia

Em 2024, Kim Jong-un assinou um pacto de defesa mútua com o presidente russo, Vladimir Putin. Segundo o Kremlin, o tratado abrange "todas as áreas", gerando preocupações no Ocidente e na China sobre a possível transferência de tecnologias nucleares e espaciais avançadas da Rússia para a Coreia do Norte. Ao mesmo tempo, o regime de Kim tem sido acusado de fornecer munição e mísseis para a Rússia usar no conflito na Ucrânia. Embora Moscou tenha evitado reconhecer abertamente essa cooperação, o Ocidente afirma que o apoio militar norte-coreano já é uma realidade.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, chegou a declarar recentemente que soldados norte-coreanos estão lutando em áreas ocupadas da Ucrânia, embora ainda não tenha apresentado provas dessa alegação.

 

 

 

 

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