Vacina contra hanseníase será testada em 54 voluntários no Brasil

O Brasil, que concentra 90% dos casos da doença nas Américas e ocupa o segundo lugar mundial em notificações, se torna palco para uma etapa decisiva no desenvolvimento da vacina.

Por Plox

15/10/2024 15h02 - Atualizado há 6 dias

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), inicia um marco importante para a saúde pública: o teste clínico de uma vacina contra a hanseníase. Com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o estudo será realizado em 54 voluntários. O Brasil, que concentra 90% dos casos da doença nas Américas e ocupa o segundo lugar mundial em notificações, se torna palco para uma etapa decisiva no desenvolvimento da vacina.

Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil

Desenvolvimento da LepVax
A vacina candidata, LepVax, foi criada pelo Access to Advanced Health Institute (AAHI), uma organização de pesquisa biotecnológica dos EUA. Usando tecnologia moderna de subunidade proteica, ela demonstrou resultados promissores em testes pré-clínicos contra a bactéria Mycobacterium leprae, causadora da hanseníase. A segurança da vacina foi comprovada em 24 pessoas saudáveis nos Estados Unidos, sem registros de eventos adversos graves, e também mostrou ser capaz de estimular uma resposta imunológica, condição essencial para seu sucesso.

Impacto da hanseníase no Brasil
O Brasil tem um histórico preocupante em relação à hanseníase. Entre 2014 e 2023, foram registrados quase 245 mil novos casos da doença, e só em 2023 foram notificados 22.773 novos casos. Diante desse cenário, os pesquisadores do estudo estão otimistas quanto aos resultados, uma vez que o sistema imunológico da população pode já ter tido contato com micobactérias, o que poderia influenciar positivamente na resposta à vacina.

Ensaios clínicos e voluntários
O estudo em humanos será conduzido pelo IOC/Fiocruz e patrocinado pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). Os voluntários serão divididos em três grupos, com dois recebendo a vacina (um com dose baixa e outro com dose alta) e o terceiro grupo sendo administrado com placebo. Todos os participantes receberão três doses da vacina ou do placebo com 28 dias de intervalo, e serão acompanhados por um ano para avaliação da segurança e imunogenicidade da vacina.

Critérios de participação
Os voluntários precisam ter entre 18 e 55 anos, estar em boas condições de saúde, não estar grávidas e não podem ter tido contato com pacientes com hanseníase. Cássio Ferreira, dermatologista do Ambulatório Souza Araújo, explica que a segurança da vacina será monitorada através de exames laboratoriais e acompanhamento clínico, observando possíveis reações comuns em imunizações, como dor no local da aplicação e dor de cabeça.

Reconhecimento internacional
Roberta Olmo, chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC, ressalta o reconhecimento internacional do laboratório pela condução do ensaio clínico: "A eliminação sustentada da hanseníase enquanto problema de saúde pública requer uma vacina. Neste cenário, a LepVax surge como uma vacina profilática e terapêutica, que poderá contribuir para as metas de controle da doença", afirma Olmo.

Apoio e financiamento internacional
O desenvolvimento da LepVax começou em 2002, liderado pela American Leprosy Missions (ALM), organização filantrópica dos Estados Unidos, e conta com financiamento do Ministério da Saúde brasileiro, além do fundo japonês Global Health Innovative Technology Fund (GHIT Fund). A Fundação de Saúde Sasakawa, do Japão, também é parceira do projeto. Esses financiamentos garantem a continuidade do estudo no Brasil, com o objetivo de combater a hanseníase e seus efeitos devastadores no país.

Metas de eliminação da hanseníase
O enfrentamento da hanseníase faz parte das estratégias do Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (Cieds), criado em 2023. Entre as metas estabelecidas estão a interrupção da transmissão da doença em 99% dos municípios brasileiros, a eliminação da hanseníase em 75% dos municípios, e a redução de 30% no número de novos casos que apresentam incapacidades físicas até 2030.

Destaques