Saúde

Minas Gerais lidera casos de coqueluche no Brasil em 2025 e acende alerta na vacinação

Estado mineiro registra 528 casos neste ano e mantém tendência de alta iniciada em 2023; queda na cobertura vacinal, risco maior para bebês e dificuldades de diagnóstico preocupam autoridades, enquanto Belo Horizonte amplia oferta de dTpa

15/12/2025 às 21:34 por Redação Plox

Minas Gerais concentra o maior número de casos de coqueluche no país em 2025. Dados do Ministério da Saúde apontam que, até 3 de dezembro, foram registrados 528 casos da doença no Estado, o que equivale a uma média de um caso a cada 16 horas — ou três diagnósticos a cada dois dias. O segundo colocado, São Paulo, somou 427 ocorrências no período.

Desde 2023, os registros de coqueluche vêm crescendo em Minas. Naquele ano, foram confirmados 14 casos e nenhuma morte. Em 2024, o total saltou para 872 notificações, com três óbitos atribuídos à doença, de acordo com o Ministério da Saúde.

Vacina previne a coqueluche, doença que pode trazer consequências sérias à saúde

Vacina previne a coqueluche, doença que pode trazer consequências sérias à saúde

Foto:  (prostooleh / Freepik/SAÚDE é Vital)


Alta em Belo Horizonte acompanha cenário estadual

Em Belo Horizonte, a curva também mudou rapidamente. Em 2023, a capital não teve nenhum caso confirmado de coqueluche. Já em 2024, foram 377 diagnósticos e uma morte. Até a primeira quinzena de dezembro deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde contabilizava 153 casos na cidade, em todas as faixas etárias.

Especialistas atribuem o avanço da coqueluche sobretudo à queda na cobertura vacinal nos últimos anos. A gravidade dos casos, por sua vez, está ligada à demora no diagnóstico, já que os sintomas se confundem com os de outras infecções respiratórias, o que dificulta a identificação precoce da doença.

Em 2024, tivemos um aumento importante de coqueluche no Brasil, provavelmente resultado das baixas coberturas vacinais a partir de 2016, que se intensificaram durante a pandemia. Agora, em 2025, a gente vê uma melhora do quadro (com redução do número de doentes em relação ao ano passado). Mas ainda preocupa muito a cobertura das gestantes. A vacinação das mães é responsável por transferir anticorpos para o bebê.

José Geraldo Leite Ribeiro, epidemiologista da rede Hermes Pardini

Oscilações na cobertura vacinal em Minas e na capital

Em Minas Gerais, a cobertura vacinal contra a coqueluche em 2023 foi de 90,65%, segundo o Ministério da Saúde. Em 2024, o índice recuou para 88,85%. Até setembro deste ano, houve recuperação, com o indicador alcançando 105,63% — situação que ocorre quando o número de doses aplicadas supera a estimativa do público-alvo. A meta recomendada pela pasta é de 95%.

Na capital mineira, conforme a Secretaria Municipal de Saúde, a cobertura da vacina pentavalente em 2023 estava em 72,1%. Nos dois anos seguintes, os percentuais ficaram em 84,5% e 84,2%, respectivamente. Mesmo com a melhora, especialistas alertam que períodos de baixa imunização abrem espaço para a circulação mais intensa da bactéria.

De acordo com a experiência acumulada por infectologistas e epidemiologistas, após cerca de dois anos de queda na cobertura vacinal, doenças imunopreveníveis tendem a voltar a circular com mais força. No caso da coqueluche, a preocupação é maior com bebês no primeiro trimestre de vida, fase em que a enfermidade é considerada gravíssima e associada a alta letalidade.

Vacina protege, mas não impede todos os casos

O médico infectologista Leandro Curi ressalta que, mesmo vacinada, a pessoa ainda pode contrair a bactéria Bordetella pertussis, causadora da coqueluche. Segundo ele, o imunizante não oferece proteção absoluta, mas diminui a circulação do agente e torna o quadro clínico menos severo em quem adoece após a imunização.

Curi também chama atenção para a dificuldade de diagnóstico, especialmente nas fases iniciais, porque a coqueluche pode se parecer com outras infecções respiratórias. Uma tosse persistente, por exemplo, pode levantar suspeita de tuberculose. Em estágios iniciais, o quadro lembra sinusite. Nesses casos, o exame clínico cuidadoso é decisivo para orientar a testagem e o tratamento.

Esquema de imunização contra a coqueluche

O esquema vacinal contra a coqueluche começa ainda nos primeiros meses de vida. O Programa Nacional de Imunizações prevê três doses da vacina pentavalente (DTP + Hib + hepatite B) aos 2, 4 e 6 meses de idade. Depois, são aplicadas doses de reforço da DTP aos 15 meses e aos 4 anos.

Na idade adulta, o imunizante dTpa (tríplice acelular do adulto), que também protege contra difteria e tétano, é indicado para gestantes a partir da 20ª semana de gestação, como estratégia de proteção do bebê nos primeiros meses de vida.

Lembrança de uma tosse que não passava

Aos 58 anos, a pensionista Andrea Martins guarda na memória a intensidade da coqueluche que teve aos 7 anos. Ela relata que tossia sem parar e que a prima, ainda bebê, também acabou contaminada. As duas sofriam com crises tão fortes que chegavam a provocar vômitos, episódio comum em quadros mais graves da doença.

Altamente contagiosa, a coqueluche é transmitida principalmente por gotículas respiratórias expelidas em tosses e espirros. Para bebês, pode ser letal, mas também representa risco para adultos não vacinados. Por isso, especialistas reforçam que a melhor forma de prevenção é manter a vacinação em dia.

Transmissão e sintomas da coqueluche

A transmissão da coqueluche ocorre sobretudo pelo ar, em ambientes fechados ou com contato próximo. Também há risco quando uma pessoa toca superfícies contaminadas por gotículas respiratórias e, sem higienizar as mãos, leva-as à boca ou ao nariz.

Os sintomas clássicos começam de forma parecida com um resfriado comum e evoluem, ao longo de dias ou semanas, para uma tosse cada vez mais intensa, muitas vezes acompanhada de secreção nas vias aéreas. Em recém-nascidos, a tosse pode ser tão forte que causa episódios de asfixia e pode se prolongar por vários meses.

A doença pode provocar fraturas de costelas, hemorragias intracranianas e complicações secundárias, como pneumonia e agravamento de quadros de asma. Se as toxinas produzidas pela bactéria alcançam a circulação sanguínea, outros órgãos podem ser afetados. Por isso, a prevenção por meio da vacinação é considerada fundamental por infectologistas.

Vacina perde efeito com o tempo

Com o passar dos anos, a proteção oferecida pela vacina contra a coqueluche diminui, o que reforça a necessidade de atenção redobrada ao contato com recém-nascidos, especialmente por adultos que não receberam reforço recente. Para crianças e gestantes, o imunizante está disponível gratuitamente pelo SUS. Adolescentes e adultos fora do público-alvo podem recorrer à rede privada para atualização vacinal.

A reportagem procurou o governo de Minas para detalhar ações específicas de prevenção e controle da coqueluche no Estado, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Medidas adotadas pela Prefeitura de Belo Horizonte

A Prefeitura de Belo Horizonte informou que monitora a situação e, seguindo recomendação do Ministério da Saúde, oferece de forma excepcional e temporária a vacina dTpa para grupos específicos. O público contemplado inclui profissionais de saúde que atuam em ginecologia, obstetrícia e pediatria, além de doulas e trabalhadores de berçários e creches que atendem crianças de até 4 anos.

A ampliação do acesso ocorre em razão do aumento de casos de coqueluche em países da Europa e da África. As doses estão disponíveis nos 153 centros de saúde da capital e no Serviço de Atenção à Saúde do Viajante.

Cobertura vacinal no país

No cenário nacional, a cobertura da vacina dTpa em gestantes também ficou abaixo da meta em alguns períodos, mas apresentou recuperação recente. Em 2023, o índice foi de 80,27%. Em 2024, subiu para 97,86% e, em 2025, está em 96,41%, patamar próximo ao recomendado pelo Ministério da Saúde.

Em Belo Horizonte, a prefeitura informa que a cobertura vacinal de gestantes com dTpa neste ano alcançou 107,13%, resultado que indica vacinação acima da estimativa inicial do público-alvo e reforça o esforço local para proteger mães e bebês contra a coqueluche.

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