PF mira R$ 3,5 bilhões usados para bancar encenações de fake news no RJ
Operação Teatro Invisível 2 investiga rede que simulava diálogos públicos para influenciar eleições; prefeito de Cabo Frio e outros políticos estão entre os alvos
Por Plox
16/04/2025 13h32 - Atualizado há 12 dias
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (16) a segunda fase da Operação Teatro Invisível, com foco em contratos públicos suspeitos de financiar um esquema de desinformação durante o período eleitoral no Rio de Janeiro. O suposto golpe teria desviado R$ 3,5 bilhões dos cofres públicos, valor que agora está sendo buscado pelas autoridades.

O núcleo da investigação revela que atores eram contratados para simular conversas e discussões em locais públicos, com o objetivo de manchar a imagem de adversários políticos e manipular a opinião do eleitorado. As cenas, roteirizadas para parecerem espontâneas, eram gravadas e disseminadas em redes sociais como se fossem registros reais de cidadãos indignados.
A operação desta quarta-feira incluiu o cumprimento de 10 mandados de busca e apreensão em diversas cidades, incluindo Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba, a capital fluminense e Juiz de Fora, em Minas Gerais. Não houve ordens de prisão. Entre os alvos está o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), além de outros nomes conhecidos no cenário político do estado.
Foram bloqueados valores equivalentes aos R$ 3,5 bilhões nas contas dos investigados, e oito empresas tiveram suas atividades econômicas suspensas. As suspeitas incluem obstrução de justiça, lavagem de dinheiro, caixa 2 e fraudes em licitações.
Também foram alvo de buscas os ex-candidatos Valdecy da Saúde (PL), derrotado em São João de Meriti; Aarão (PP), que tentou a Prefeitura de Mangaratiba; e Rubão (Podemos), que venceu em Itaguaí mas não pôde assumir o cargo. Além deles, Davi Perini Vermelho, o Didê (PSDB), presidente do Instituto Rio Metrópole, e o subsecretário estadual Rodrigo de Castro também estão na lista.
Em um dos endereços vistoriados, no Recreio dos Bandeirantes, a PF apreendeu um relógio avaliado em R$ 39 mil. Segundo os agentes, o grupo apagou provas digitais e usou contas de passagem, dinheiro vivo e empresas de fachada para movimentar os recursos. A fraude envolvia contratos genéricos com prefeituras dos quatro municípios investigados.
A primeira fase da operação ocorreu em setembro do ano passado, quando quatro pessoas foram presas. A estratégia já identificada pela PF incluía peças improvisadas encenadas por atores em feiras e terminais, com conteúdos abordando temas como corrupção, segurança e racismo. Um dos atores chegou a relatar que recebia R$ 250 por dia para fingir ser um eleitor revoltado.
As autoridades eleitorais consideram esse tipo de ação uma ameaça sofisticada à democracia, combinando atuação de rua e disseminação digital para influenciar o voto de forma indireta e difícil de rastrear.
A defesa dos investigados alega surpresa com a operação e afirma que eles estão à disposição da Justiça. A Prefeitura de Cabo Frio declarou não ter sido notificada oficialmente, enquanto as administrações de Mangaratiba e Itaguaí negam envolvimento com a atual gestão.
O Instituto Rio Metrópole, por sua vez, negou qualquer relação com os fatos e afirmou que o alvo da operação é o presidente da entidade, e não o órgão em si.