Sinais químicos em planeta distante acendem alerta para possível vida extraterrestre, dizem cientistas

Planeta K2-18 b, localizado a 124 anos-luz da Terra, apresenta compostos que na Terra só são produzidos por organismos vivos. Estudo é considerado um divisor de águas por astrônomos.

Por Plox

16/04/2025 22h26 - Atualizado há 7 dias

Uma equipe de astrofísicos liderada pelo professor Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge, identificou o que pode ser o indício mais sólido até agora de atividade biológica fora do Sistema Solar. Através de observações feitas pelo telescópio espacial James Webb, os cientistas detectaram no planeta K2-18 b, localizado a 124 anos-luz da Terra, a presença de dois compostos químicos cujas origens, em nosso planeta, estão ligadas exclusivamente à vida: o dimetil sulfeto (DMS) e o dissulfeto de dimetila (DMDS).


Imagem Foto: Reprodução


Apesar de não representarem uma prova definitiva de vida alienígena, esses elementos levantam a possibilidade de um ambiente propício ao desenvolvimento biológico. “Essa pode ser a virada de chave que nos coloca mais próximos da resposta sobre estarmos sozinhos ou não no universo”, afirmou Madhusudhan.


Planeta gigante em zona habitável

O K2-18 b, que orbita uma estrela anã vermelha na constelação de Leão, é quase nove vezes mais massivo que a Terra e possui 2,6 vezes seu tamanho. Ele está localizado dentro da chamada zona habitável de sua estrela — uma região onde as condições permitem a existência de água líquida.

Em 2019, o telescópio Hubble já havia apontado sinais de vapor d’água na atmosfera do planeta, o que levou alguns pesquisadores a classificá-lo como "o mundo mais habitável conhecido" fora do Sistema Solar. No entanto, observações posteriores realizadas em 2023 pela equipe de Cambridge revelaram que o sinal era, na verdade, de metano. Mesmo assim, os cientistas sustentaram a hipótese de que o planeta poderia abrigar um vasto oceano, ideia ainda debatida na comunidade científica.


Assinaturas químicas surpreendentes

A descoberta mais recente foi possível graças à técnica de espectroscopia, que analisa a luz estelar filtrada pela atmosfera do exoplaneta durante seu trânsito frente à estrela. Nessas medições, observou-se uma queda nos comprimentos de onda correspondentes ao DMS e ao DMDS. O professor Madhusudhan ressaltou que o sinal foi claro e significativo: "É inacreditável pensar que conseguimos detectar essas moléculas em um planeta potencialmente habitável.”

Os dados foram publicados na revista The Astrophysical Journal Letters com um nível de significância estatística de “três sigma”, o que indica uma chance de apenas 0,3% de os resultados serem fruto do acaso — embora ainda não atinja o rigor exigido para declarações definitivas na física.


Sinais podem ter outras origens?

Apesar do entusiasmo, há vozes cautelosas na comunidade científica. A Dra. Nora Hänni, do Instituto de Física da Universidade de Berna, apontou que o DMS já foi detectado em cometas sem sinais de vida, levantando a possibilidade de que outros processos químicos, ainda desconhecidos, possam ser responsáveis por sua presença. “A vida é uma das opções, mas há outras que precisam ser descartadas com rigor”, alertou.

Há também incertezas sobre as reais condições de K2-18 b. Enquanto alguns defendem a existência de um oceano, outros sugerem que o planeta pode ser composto por gases ou até por mares de magma, tornando o ambiente hostil à vida como conhecemos.


A importância da descoberta

Mesmo que a hipótese de vida não se confirme, o avanço representa um marco. A Dra. Caroline Morley, da Universidade do Texas em Austin, destacou que, embora a descoberta não seja conclusiva, trata-se de um avanço importante na busca por biossinais. Já a cientista Jo Barstow, da Open University, reforçou que qualquer indício de vida requer um grau de evidência altíssimo: “Minha cautela diante dessas afirmações é sempre máxima, não por duvidar da existência de vida fora da Terra, mas pela seriedade da descoberta que isso representa.”

Madhusudhan concluiu que, mesmo sem a possibilidade de uma visita ao planeta, os cientistas estão mais perto de entender se as leis da biologia se aplicam de forma universal: “Não se trata de irmos até lá para nadar na água. É sobre descobrirmos se o universo é realmente um lugar vivo.”

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