ArcelorMittal ameaça cancelar R$ 3 bilhões em investimentos em Minas
Multinacional pressiona governo federal por medidas contra importações de aço que ameaçam setor siderúrgico nacional
Por Plox
16/05/2025 08h54 - Atualizado há 1 dia
A multinacional ArcelorMittal, responsável por uma série de investimentos bilionários em Minas Gerais, sinalizou a possibilidade de cancelar cerca de R$ 3 bilhões em novos aportes no estado. A medida seria uma resposta à falta de proteção comercial eficaz contra a crescente importação de aço, principalmente da China.

Nos últimos anos, a empresa já investiu de forma significativa em Minas, com destaque para a expansão da unidade em Sabará, no início deste ano, e a ampliação da Mina de Serra Azul. Esses projetos integram um pacote total de cerca de R$ 4 bilhões previstos até 2025. Apesar disso, a continuidade do plano de investimentos está ameaçada, conforme alerta o CEO da ArcelorMittal Aços Longos Latam e Mineração Brasil, Everton Guimarães Negresiolo.
Segundo ele, ainda está mantida a projeção de R$ 25 bilhões em investimentos no Brasil entre 2022 e 2025, mas o cenário futuro é incerto. Uma nova rodada de investimentos estimada em R$ 10 bilhões até 2030 pode ser revista, dependendo das decisões do governo federal nas próximas semanas. Negresiolo enfatiza que
a situação atual coloca em risco seriamente a continuidade dos investimentos no futuro
.
No centro da preocupação da siderurgia nacional está o crescimento expressivo das importações de aço. De acordo com o Instituto Aço Brasil, a previsão é de que a entrada do produto estrangeiro aumente 75% em 2025, em relação à média dos anos de 2020 a 2022. Essa alta, que também foi percebida de forma mais moderada em 2023 e 2024, tem sido considerada uma ameaça para o setor.
As siderúrgicas brasileiras denunciam que a concorrência tem sido desleal, especialmente por conta do aço chinês que chega ao país abaixo do custo de produção, favorecido por subsídios dos governos estrangeiros. Isso tem prejudicado as vendas do aço nacional e enfraquecido a indústria local.
Em 2024, após apelos das empresas, o governo federal estabeleceu cotas para a importação de 11 tipos de produtos de aço. Quando o volume importado ultrapassa 30% da média dos anos anteriores, é aplicada uma tarifa de 25%. Essa política, no entanto, tem validade apenas até o dia 31 de maio de 2025.
O setor agora pressiona pela renovação da medida, defendendo não só sua manutenção, mas também o seu fortalecimento. “O mínimo que o setor espera é uma renovação desse mecanismo, com a inserção de mais produtos no portfólio e talvez a eliminação dessa tolerância de 30%”, argumenta Negresiolo.
A reportagem procurou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para comentar sobre a possível renovação da política de cotas, mas ainda aguarda resposta.
Negresiolo também alertou para os possíveis efeitos colaterais das tarifas impostas pelo governo norte-americano sob a gestão de Donald Trump. Embora os Estados Unidos não sejam autossuficientes na produção de aço e continuem demandando o produto brasileiro, essas barreiras podem acabar redirecionando exportações asiáticas para o Brasil.
“Isso gera um desbalanço no mercado global e desvio do comércio. Na prática, ao serem impactados pelas tarifas, os países que historicamente exportavam para os EUA estão buscando novos mercados para compensar os volumes perdidos”, concluiu o executivo.
Dessa forma, o setor siderúrgico brasileiro aguarda definições cruciais por parte do governo, que podem determinar o rumo de investimentos estratégicos não só em Minas Gerais, mas em todo o país.