FIEMG pede mais hidrelétricas no Brasil diante da bandeira amarela

Indústria defende mais investimentos

Por Plox

16/07/2024 07h35 - Atualizado há cerca de 2 meses

A conta de luz aumentará em julho devido à adoção da bandeira amarela, a primeira mudança desde abril de 2022. Esse ajuste ocorre em um contexto de previsões de chuvas 50% abaixo da média até o final do ano e um inverno mais quente que o habitual, o que pode levar ao uso de termelétricas, uma fonte mais cara e poluente de energia. Para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a solução é investir em mais hidrelétricas. “O acionamento da bandeira amarela sinaliza que estamos ligando as termelétricas, que são poluentes e mais caras que as hidrelétricas”, afirmou Flávio Roscoe, presidente da entidade.

Desafios das hidrelétricas

Apesar da defesa da Fiemg, especialistas questionam a eficácia dessa proposta. Dailson Bertassoli Júnior, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), argumenta que novas hidrelétricas não resolveriam a variação das contas de luz, uma vez que a dependência das chuvas persistiria. “As variações tendem a aumentar no cenário de mudanças climáticas, e as condições tendem a se tornar piores”, disse Bertassoli Júnior.

Impactos ambientais e soluções alternativas

O Brasil, que já investiu massivamente em hidrelétricas e abriga duas das cinco maiores do mundo, enfrenta desafios ambientais significativos com esses empreendimentos. A usina de Belo Monte, por exemplo, inaugurada em 2016, tem causado secas em trechos do rio Xingu, afetando comunidades indígenas e ribeirinhas. Bertassoli Júnior sugere melhorar a eficiência das hidrelétricas existentes em vez de construir novas, através da substituição de turbinas e adaptação das usinas ao modelo reversível, que permite armazenar energia.

Diversificação da matriz energética

Atualmente, cerca de 70% da energia do Brasil vem de hidrelétricas, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Outras fontes, como a eólica (12,1%) e a solar (9,4%), compõem o restante da matriz energética. Bertassoli Júnior enfatiza a necessidade de diversificação: “Precisamos diversificar essa matriz em vez de confiar novamente apenas nas hidrelétricas”, destacou.

Energia limpa?

A energia das hidrelétricas é renovável, mas não necessariamente limpa. Estudos apontam que hidrelétricas, dependendo de seu modelo e localização, podem emitir gases de efeito estufa. Um estudo de 2021 envolvendo a USP, a Universidade de Linköping, a Universidade de Washington e a UFPA revelou que Belo Monte triplicou as emissões de gases do efeito estufa na Amazônia. Bertassoli Júnior acrescenta que, embora emitam menos gases que termelétricas, as hidrelétricas causam impactos locais significativos, como o deslocamento de pessoas e a inundação de áreas relevantes.

Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)

Uma alternativa que merece mais estudo são as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que têm menor impacto global devido ao seu tamanho reduzido. No entanto, o impacto combinado de várias PCHs ainda não é bem compreendido e precisa ser avaliado.

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