Filme 'Família' retrata desafios de imigrantes brasileiros no Japão com Yakusho no papel principal

Drama aborda preconceito e isolamento em um Japão em mudança, focando na vida de um artesão e nas dificuldades dos dekasseguis.

Por Plox

16/08/2024 14h12 - Atualizado há 2 meses

O renomado ator japonês Koji Yakusho, aclamado por sua atuação em "Dias Perfeitos", volta às telas com um papel similar no filme "Família", dirigido por Izuru Narushima. O longa-metragem, atualmente em cartaz nos cinemas, aborda as complexidades da vida de Seji, um artesão japonês, e a difícil situação enfrentada por imigrantes brasileiros, os chamados dekasseguis, no Japão.

Foto: Divulgação

Seji e a vida simples no Japão em transformação

Em "Família", Yakusho dá vida a Seji, um artesão que, assim como seu personagem Hirayama em "Dias Perfeitos", leva uma vida marcada pela simplicidade e pelo trabalho manual meticuloso. Desde as primeiras cenas, o filme nos mergulha no cotidiano de Seji, mostrando o processo detalhado da produção de cerâmicas. Essa rotina, embora repetitiva, é apresentada de maneira quase terapêutica, revelando um Japão em transição, onde o tradicional e o moderno colidem.

Assim como Hirayama, Seji tenta manter o mínimo de interação social, um reflexo de traumas passados que o empurraram para o isolamento. Contudo, enquanto "Dias Perfeitos" desenvolve sua narrativa de maneira circular, "Família" segue por dois caminhos distintos, explorando não apenas a vida de Seji, mas também a difícil jornada dos dekasseguis, jovens brasileiros que enfrentam o preconceito e a exclusão na sociedade japonesa.

Preconceito e intolerância: o desafio dos imigrantes brasileiros

Narushima utiliza o contraste entre os dekasseguis e a sociedade japonesa para destacar as diferenças culturais e o preconceito que ainda permeia o Japão contemporâneo. A discriminação é evidenciada pela cor da pele, pela forma do corpo e até pelo vestuário, acentuando a falta de aceitação que os imigrantes brasileiros enfrentam. Um exemplo claro dessa intolerância é o filho de um mafioso japonês que expressa abertamente seu desprezo pelos brasileiros.

Essa tensão racial e cultural serve como pano de fundo para um conflito maior que reflete as guerras e divisões que marcam o mundo atual. O filme tenta abordar essas questões de forma quase didática, conectando-as com os dilemas pessoais de Seji e sua relutância em permitir que seu filho retorne à pequena cidade onde vivem, um lugar que ele vê como em decadência.

A busca por redenção e o papel dos dekasseguis

Embora o filme proponha uma relação entre a jornada de Seji e a situação dos dekasseguis, há uma desconexão perceptível entre as duas narrativas. A decisão de Seji de manter seu filho afastado prevalece sobre a história dos imigrantes brasileiros, que, apesar de terem espaço no enredo, acabam servindo mais como um catalisador para a resolução dos dilemas pessoais do protagonista.

Narushima desejava dar equivalência às histórias do filho de Seji e de Marcos, um jovem dekassegui interpretado por Lucas Segae, um lutador de kickboxing no Japão. No entanto, essa tentativa fica aquém, com Marcos não conseguindo provocar uma identificação mais profunda no público, sendo visto apenas como uma vítima do sistema.

Conclusão das jornadas pessoais

No final, "Família" busca amarrar as pontas soltas de Seji, resolvendo seus dilemas pessoais através da conexão com os dekasseguis, mas sem explorar totalmente o potencial dramático da situação dos imigrantes brasileiros. 

Destaques