HIV: cientistas descobrem nova variante do vírus em circulação no Brasil

Vírus é uma mistura genética dos subtipos B e C, sendo detectado em três estados; transmissão pode ter começado a partir de um único paciente

Por Plox

16/08/2024 08h42 - Atualizado há 11 meses

Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em colaboração com uma instituição sul-africana, identificaram uma nova cepa do vírus HIV circulando no Brasil. Essa nova variante, denominada CRF146_BC, é uma recombinação genética dos subtipos B e C, os mais comuns no país, e foi detectada em amostras de pessoas soropositivas nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.

Foto: Reprodução/Getty

Detecção e disseminação do novo subtipo

A descoberta foi publicada nesta sexta-feira (16/8) na revista Memórias, do Instituto Oswaldo Cruz. Os pesquisadores analisaram uma amostra coletada em 2019 de um paciente em tratamento em Salvador e, ao investigarem uma base de dados nacional, encontraram mais três casos semelhantes nos outros estados mencionados. As análises indicaram que as quatro amostras têm uma relação de parentesco, sugerindo que a nova variante pode ter se originado de um único indivíduo infectado simultaneamente pelos subtipos B e C, que iniciou a transmissão no Brasil.

Características e potencial impacto da CRF146_BC

Apesar de o subtipo B ser responsável por cerca de 80% dos casos de HIV no Brasil, a nova variante contém majoritariamente material genético do subtipo C. Segundo a pesquisadora Joana Paixão Monteiro-Cunha, da UFBA, o subtipo C pode possuir vantagens adaptativas que o tornam mais eficiente na replicação do vírus. Contudo, ainda não há informações conclusivas sobre se a CRF146_BC é mais transmissível ou se provoca uma progressão mais rápida para a aids.

Risco de disseminação nacional

Joana Paixão Monteiro-Cunha, em entrevista à Agência Bori, ressaltou que "quando duas variantes diferentes infectam a mesma célula, podem se formar híbridos durante o processo de replicação do vírus e, desses, surgem os recombinantes. Nosso estudo mostrou que as variantes encontradas nas diferentes regiões geográficas são descendentes de um mesmo ancestral. Assim, é possível especular que ela já está amplamente disseminada no país”.

Respostas ao tratamento e contexto global

Embora a CRF146_BC seja uma nova preocupação, os cientistas afirmam que o tratamento padrão com terapia antirretroviral (ARV) não precisa ser alterado, já que todos os subtipos de HIV-1 costumam responder bem a essa terapia. Desde a década de 1980, mais de 150 recombinações entre os subtipos B e C foram identificadas globalmente, e essas variantes mistas são responsáveis por cerca de 23% das infecções por HIV no mundo.

Continuação dos estudos e vigilância

A equipe da UFBA e da Fiocruz continuará monitorando o surgimento de novas variantes do HIV, contribuindo para a vigilância da disseminação do vírus e ajudando a garantir que o tratamento continue eficaz para todas as pessoas vivendo com HIV.

 

 

 

 

Destaques