Ex-delegado que combateu o PCC é morto em ataque armado no litoral de SP
Ruy Ferraz Fontes, figura central na repressão ao crime organizado em São Paulo, foi assassinado em emboscada em Praia Grande; polícia investiga vingança do PCC
Por Plox
16/09/2025 07h19 - Atualizado há cerca de 2 horas
Na noite de segunda-feira (15), a cidade de Praia Grande, no litoral paulista, foi palco de uma execução que abalou a segurança pública de São Paulo: o ex-delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, de 64 anos, foi morto a tiros em um atentado com fortes indícios de vingança.

Fontes acumulava 40 anos de atuação na polícia e tinha se tornado conhecido nacionalmente por sua atuação firme contra o crime organizado, especialmente o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que o considerava um dos seus principais algozes. Seu envolvimento direto em investigações contra o grupo desde o início dos anos 2000 o colocou na mira de criminosos, inclusive de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção, que chegou a jurá-lo de morte em 2019, após ser transferido para o sistema penitenciário federal.
A emboscada foi registrada por câmeras de segurança. As imagens mostram o momento em que Fontes tenta escapar da perseguição ao colidir com um ônibus, fazendo seu veículo capotar. Em seguida, criminosos armados, que estavam em uma SUV Toyota Hilux SW4 preta, descem e disparam várias vezes contra ele. Pouco tempo depois, o carro usado no crime foi encontrado incendiado, o que reforça a suspeita de execução planejada.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo já trata o caso como retaliação por parte do PCC. “Isso aí certamente foi vingança do PCC. Ele lutou muito contra a facção”, afirmou Osvaldo Nico Gonçalves, secretário-executivo da SSP. Em resposta imediata, pelo menos 100 policiais de unidades especializadas foram deslocados para a Baixada Santista para dar início às buscas pelos autores do atentado.
“Ruy foi executado covardemente por criminosos, após uma trajetória marcada pelo combate firme e incessante ao PCC”, declarou Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, da Adepol do Brasil
Na mesma ação que vitimou o ex-delegado, um homem e uma mulher também ficaram feridos. Ambos foram socorridos pelo Samu e levados à UPA Quietude, sendo posteriormente transferidos para o Hospital Municipal Irmã Dulce. A mulher deve ser liberada nas próximas horas, enquanto o homem permanece sob cuidados médicos.
Antes de assumir a Secretaria de Administração de Praia Grande em janeiro de 2023, Fontes teve uma carreira marcante. Atuou em diversas unidades de destaque, como o Departamento de Narcóticos (Denarc), o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap). Também foi diretor da Delegacia Geral da Polícia Civil de São Paulo e professor universitário nas áreas de Criminologia e Direito Processual Penal.
Além de sua vasta experiência policial, Ruy possuía formação especializada em Administração Pública e cursos de combate ao tráfico e ao terrorismo, feitos na França e no Canadá.
Ao longo de sua trajetória, sobreviveu a diversas tentativas de assalto, o que demonstra seu histórico de enfrentamentos. Em 2012, por exemplo, reagiu a um ataque na Rodovia Anchieta enquanto pilotava uma moto Ducati, ferindo dois assaltantes. Em outro episódio, em 2020, escapou de criminosos no bairro do Ipiranga, zona sul da capital. Já em 2022, também em São Paulo, foi novamente alvo de um assalto, do qual conseguiu se defender. Em Praia Grande, sofreu um roubo quando retornava de um restaurante, ocasião em que levaram seus pertences e veículo.
A investigação agora se concentra na identificação dos autores do crime e na possível participação de outros veículos na ação. O caso mobiliza toda a cúpula da Segurança Pública paulista, que promete uma resposta à altura da gravidade da execução do ex-delegado, considerado símbolo do combate ao crime organizado no estado.