Bactérias na boca podem indicar risco de Alzheimer antes dos primeiros sintomas
Pesquisa revela ligação entre microbioma oral e saúde cerebral, podendo ajudar na detecção precoce da doença
Por Plox
17/02/2025 11h53 - Atualizado há 6 meses
Cientistas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, descobriram que certas bactérias presentes na boca podem estar associadas a alterações na função cerebral à medida que as pessoas envelhecem. O estudo sugere que a composição do microbioma oral pode influenciar a memória, a atenção e até mesmo indicar a presença do gene ligado ao Alzheimer antes dos primeiros sintomas aparecerem.

Microbioma oral e função cerebral
A pesquisa analisou amostras de saliva de 115 voluntários com mais de 50 anos, divididos em dois grupos: um sem sinais de declínio cognitivo e outro com comprometimento cognitivo leve. Os cientistas observaram que certas bactérias estavam associadas a uma melhor função cerebral, enquanto outras pareciam estar ligadas a problemas de memória e ao Alzheimer.
Entre os achados, indivíduos com maior presença das bactérias Neisseria e Haemophilus demonstraram melhor memória e atenção. Já aqueles com níveis elevados da bactéria Porphyromonas apresentaram pior desempenho cognitivo. Outro grupo bacteriano, Prevotella, foi relacionado a baixos níveis de nitrito, um padrão comum em pessoas que carregam o gene de risco para a doença de Alzheimer.
Possíveis avanços no diagnóstico precoce
A principal autora do estudo, Joanna L’Heureux, destaca a importância dessa descoberta:
"Podemos prever se você tem o gene do Alzheimer antes mesmo de começar a ter problemas ou pensar em ir ao médico para um diagnóstico."
Embora o estudo não comprove que essas bactérias causam a doença, ele abre caminho para novas investigações sobre como o microbioma oral pode influenciar a saúde do cérebro.
A co-autora Anne Corbett acredita que os resultados podem levar a novas estratégias para prevenir a demência:
"Se certas bactérias apoiam a função cerebral enquanto outras contribuem para o declínio, então tratamentos que alteram o equilíbrio de bactérias na boca podem ser parte de uma solução para prevenir a demência. Isso pode ser por meio de mudanças na dieta, probióticos, rotinas de higiene oral ou até mesmo tratamentos direcionados."
Dieta e saúde do cérebro
Com os resultados iniciais, os pesquisadores estão agora investigando se a alimentação pode ter um papel na modulação do microbioma oral. Alimentos ricos em nitrato, como folhas verdes, podem estimular o crescimento de bactérias benéficas para o cérebro.
A possibilidade de usar exames de saliva como ferramenta de diagnóstico precoce também está sendo considerada. Segundo Anni Vanhatalo, pró-reitora associada de pesquisa e impacto da Universidade de Exeter, essa tecnologia poderia ser integrada às consultas médicas para identificar precocemente o risco de doenças neurodegenerativas.
O estudo ainda está em seus estágios iniciais, mas os cientistas acreditam que novas pesquisas podem levar a métodos mais eficazes para diagnosticar e até prevenir a progressão do Alzheimer e outras doenças cognitivas.