Diretora mineira leva 'Nimuendajú' ao maior festival de animação do mundo
Filme de Tania Anaya, que une rotoscopia e animação 2D, é o primeiro longa mineiro do gênero dirigido por uma mulher
Por Plox
17/05/2025 09h22 - Atualizado há 1 dia
Uma conquista histórica marca o cinema de animação em Minas Gerais. O filme “Nimuendajú”, dirigido por Tania Anaya, é o primeiro longa-metragem de animação mineiro assinado por uma mulher. A obra estreia em grande estilo: integra a competição oficial do Festival de Annecy, o mais importante evento internacional dedicado ao cinema de animação, realizado na França a partir de 8 de junho.

Ao lado da conquista internacional, o filme também se destaca por sua proposta artística e temática. A produção, que levou 13 anos para ser concluída, combina rotoscopia com animação 2D tradicional. A escolha estética visa criar uma linguagem mais realista, especialmente por abordar uma figura histórica: o etnólogo alemão Curt Unckel, que viveu entre povos indígenas brasileiros e foi rebatizado pelos Guarani como Nimuendajú, que significa “aquele que encontrou seu lugar no mundo”.
A diretora, formada pela Escola de Belas Artes da UFMG e uma das pioneiras na animação em Minas, mergulhou por mais de uma década no projeto. Desde 2012, concentrou-se quase exclusivamente no filme, enfrentando pausas por questões orçamentárias. O investimento final girou em torno de R$ 5 milhões.
Anaya filmou em três aldeias – Apinajés (Tocantins), Canela-Ramkokamekrá (Maranhão) e Guarani (Rio de Janeiro) – onde os próprios indígenas interpretaram personagens que teriam convivido com Curt. A diretora destaca que o objetivo era romper com os estereótipos genéricos sobre os povos originários, buscando uma representação fiel a seus repertórios culturais, visuais e sonoros.
O filme é o terceiro longa de animação mineiro a ser lançado, após “Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro” (2023), de Guilherme Fiúza, e “Placa-Mãe” (2024), de Igor Bastos. Diferente dos anteriores, “Nimuendajú” mira o público adulto e encontrou apoio da distribuidora paulista O2 Play, que também lançou “Placa-Mãe”.
A narrativa acompanha a trajetória de Curt, responsável por estudar 50 povos indígenas ao longo de quatro décadas. Sua dedicação o levou a registrar culturas até então desconhecidas, sendo reconhecido como o pesquisador que mais se aprofundou na questão indígena no Brasil. O interesse de Anaya por Curt surgiu ainda em 2005, durante a produção do curta documental “ÃGTUX”.
No Festival de Annecy, “Nimuendajú” compete na seção Contrachemp, dedicada a filmes ousados e inovadores. A categoria já premiou outro brasileiro, “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Pessoas”, em 2021. No passado, o Brasil venceu a principal categoria com “Uma História de Amor e Fúria” (2013) e “O Menino e o Mundo” (2016), este último indicado ao Oscar.
Para o futuro, Tania Anaya planeja projetos ambiciosos. Ela trabalha com o diretor Otto Guerra no filme “O Filha da Puta”, previsto para 2026, e desenvolve a série de TV “Palmeiras do Alto”, com 26 episódios voltados ao humor e produzidos em stop-motion. Com mais acesso a editais públicos, ela espera que seus próximos trabalhos possam ser realizados com maior agilidade e estrutura.