Cultura impacta frequência do brasileiro ao dentista
Mais da metade da população não visita o dentista na periodicidade recomendada, mesmo com esforços da Política Nacional de Saúde Bucal
Por Plox
17/06/2024 10h31 - Atualizado há 9 meses
Mais da metade da população brasileira não frequenta o dentista na frequência recomendada, conforme pesquisa do Ministério da Saúde em parceria com o IBGE. O estudo, realizado entre 2013 e 2019, aponta que 55% dos brasileiros não vão ao dentista semestralmente ou ao menos uma vez ao ano. O bancário Thiago Magalhães Tavares, de 43 anos, é uma exceção, visitando o dentista a cada seis meses para limpeza completa, mesmo sem sentir dor. “Sempre vou para fazer uma limpeza completa, o que não é possível no dia a dia”, explica Tavares.

A Política Nacional de Saúde Bucal, lançada em 2004 e retomada no ano passado como especialidade obrigatória do SUS, visa democratizar o acesso aos cuidados odontológicos. No entanto, a cirurgiã-dentista Patrícia Goulart, do Instituto Bionúcleo Buritis, observa que a cultura do brasileiro ainda impede uma frequência adequada ao dentista. “Somos, realmente, um país de desdentados, obviamente pela questão da cultura – não só de ir ao dentista, como também em relação aos cuidados básicos de higiene em casa”, ressalta.
Patrícia destaca que a geração dos anos 1950 e 1960 passou por tratamentos odontológicos invasivos, criando traumas que foram transmitidos às gerações seguintes. Esse medo, segundo ela, é mais perceptível nas classes C e D. A pandemia também contribuiu para a redução das idas ao dentista.
Thaís Lupiañez Malta, também cirurgiã-dentista, enfatiza a necessidade de conscientização sobre a relação entre saúde bucal e saúde geral. "A higienização correta pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de outras enfermidades, como a endocardite bacteriana, a pneumonia, o agravamento da diabetes e até mesmo a impotência sexual."
Em Belo Horizonte, a Política Nacional de Saúde Bucal foi integrada ao Programa de Saúde da Família, com 347 equipes de odontologia em 152 centros de saúde. André Menezes, subsecretário de Atenção à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, destaca que a cobertura em saúde bucal no Brasil é de cerca de 45%, com a meta de atingir 70% até 2025, conforme anunciado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Patrícia Goulart aponta a alimentação inadequada e a falta de hábitos de higiene bucal como problemas adicionais. “As crianças estão tomando refrigerante e comendo muito alimento açucarado desde cedo. O mínimo são três escovações ao dia e uso do fio dental, que é o mais importante”, recomenda.
Em 2023, Belo Horizonte realizou 489.890 consultas odontológicas, um aumento em relação a 2022. Menezes destaca a ampliação da odontologia hospitalar na rede pública para casos mais complexos, encaminhados ao Hospital Odilon Behrens.