Portugal levou nosso ouro? descubra o real destino do tesouro brasileiro

A questão do ouro levado por Portugal do Brasil é frequentemente discutida nas redes sociais e em debates entre brasileiros e portugueses. A provocação surge de um contexto histórico, mas o destino real desse tesouro ainda gera muitas dúvidas.

Recentemente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, comentou sobre um caso de xenofobia contra uma brasileira em Portugal, afirmando que "até concordaria que os portugueses repatriassem todos os imigrantes brasileiros que por lá vivem", desde que devolvam "junto o ouro de Ouro Preto".

O ciclo do ouro no Brasil
O Ciclo do Ouro começou no início do século XVIII, mas já havia exploração de ouro no Brasil em menor escala desde o século XVI. A descoberta de ouro em Minas Gerais no final do século XVII transformou a economia da colônia, substituindo a cana-de-açúcar como principal produto.

Estima-se que entre 876.629 e 948.105 quilos de ouro foram extraídos durante o século XVIII, segundo historiadores como Virgílio Noya Pinto e Pandiá Calógeras. No entanto, registros precisos são escassos devido a eventos como o incêndio da Alfândega de Lisboa em 1764 e o frequente contrabando para evitar a tributação.

O destino do ouro brasileiro
Leonardo Marques, historiador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que é impossível determinar exatamente quanto ouro foi levado para Portugal. As estimativas se baseiam em registros de chegada do metal à Europa, onde foi amplamente utilizado.

Portugal enfrentava uma crise econômica global e uma escassez de metais preciosos quando a exploração de ouro no Brasil começou. A coroa portuguesa incentivou a busca por ouro, transformando a América portuguesa. No século XVIII, as Américas respondiam por 85% da produção mundial de ouro, com Minas Gerais sendo o principal centro de extração.

Consequências da exploração do ouro
Os colonos portugueses usavam mão de obra escravizada nas minas e grande parte do ouro extraído financiava obras públicas em Portugal, como o Palácio Nacional de Mafra. A maior parte do ouro foi para a Inglaterra devido aos acordos comerciais, como o Tratado de Methuen de 1703, que trocava ouro por produtos manufaturados britânicos, impulsionando a Revolução Industrial.

A exploração do ouro teve impactos profundos na sociedade brasileira, como a interiorização econômica e um aumento no tráfico de escravos para suprir a demanda de trabalho nas minas. Leonardo Marques destaca que os problemas atuais do Brasil são reflexo dessa lógica de exploração. A sociedade escravista e hierarquizada criada na época deixou marcas ambientais e sociais duradouras.

O debate sobre a devolução do ouro, frequentemente mencionado em memes, levanta questões importantes sobre as influências globais na história e no desenvolvimento do Brasil, sublinhando os efeitos contínuos da exploração colonial.