Fila do INSS ultrapassa 6 milhões de pedidos pendentes
Greves, falhas sistêmicas e déficit de servidores agravam atrasos na concessão de benefícios previdenciários
Por Plox
17/06/2025 11h56 - Atualizado há 13 dias
Em maio de 2025, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou um acúmulo de 3,906 milhões de solicitações aguardando análise, incluindo pedidos de aposentadoria, pensão, revisões, recursos administrativos e cumprimento de decisões judiciais. Quando somadas as demandas internas, o número total de pendências alcança 6,1 milhões.

Diversos fatores contribuíram para esse cenário alarmante. A redução no quadro de servidores, atualmente com cerca de 18 mil funcionários ativos — número significativamente inferior aos 35 mil de anos anteriores —, é apontada como uma das principais causas. Além disso, falhas recorrentes nos sistemas operacionais gerenciados pela Dataprev e os efeitos remanescentes de duas greves ocorridas em 2024, envolvendo servidores administrativos e peritos, agravaram ainda mais a situação.
Do total de solicitações pendentes, 2,6 milhões correspondem a pedidos iniciais, considerados a \"fila oficial\" do órgão. Outros 715 mil referem-se ao Seguro Defeso, benefício destinado a pescadores artesanais durante o período de defeso. Há também 285 mil pedidos de revisão, 208 mil recursos administrativos aguardando julgamento ou cumprimento de decisão pelo Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) e 136 mil processos relacionados ao cumprimento de ações judiciais.
Internamente, o INSS acumula 2,243 milhões de processos vinculados a fluxos internos e procedimentos automáticos de manutenção de benefícios. Desses, 999 mil estão sob o Monitoramento Operacional de Benefícios (MOB), programa que visa identificar possíveis irregularidades e fraudes, enquanto outros 1,2 milhão referem-se a atividades de manutenção dos benefícios ativos.
Pedro Totti, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Seguro Social e Previdência Social no Estado de São Paulo (SINNSP), atribui o crescimento da fila a um acúmulo de tarefas após as greves de 2024, aposentadorias de servidores e falhas constantes nos sistemas de tecnologia. Segundo ele, \"o que está acontecendo é que você tem uma demanda alta que entra, e a resolução dessa demanda é menor, você vai criando estoque em cima de estoque\".
O advogado especialista em direito previdenciário Washington Barbosa destaca que a explosão na fila de espera do INSS é consequência direta da falta de estrutura do órgão. Ele ressalta que os servidores responsáveis por analisar os pedidos também são designados para outras tarefas, o que gera um acúmulo e, consequentemente, um maior tempo de espera na fila. Barbosa também chama atenção para o enfraquecimento do CRPS, que considera uma instância essencial para a resolução de impasses administrativos: \"Era um modelo rápido e barato. Hoje está sendo sucateado\".
Para tentar mitigar o problema, o INSS e o Ministério da Previdência Social anunciaram, no último mês, o pagamento de até R$ 17,1 mil para servidores que contribuírem para a redução da fila de pedidos de aposentadoria, pensão e outros benefícios, além da revisão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Os valores adicionais, de até R$ 68 por tarefa, serão concedidos apenas após o cumprimento das metas mensais estabelecidas para cada servidor.
Em relação às falhas nos sistemas, a Dataprev informou que, ao longo de 2024, modernizou os sistemas utilizados pelos servidores do INSS e os canais de atendimento ao cidadão, como o Meu INSS. Entre janeiro e fevereiro de 2025, ocorreu uma migração para o novo sistema de atendimento e para uma nova versão do Meu INSS, que passou a contar com recursos para personalização de serviços conforme o perfil do cidadão e novos componentes de segurança. A empresa afirma que \"não foram registrados episódios de indisponibilidade dos sistemas de atendimento do INSS em 2025. Episódios de lentidão e instabilidade ocorreram, de forma pontual, e foram solucionados\".
Para os segurados que desejam agilizar seus pedidos, especialistas recomendam algumas medidas:
- Verificar se todos os vínculos empregatícios e salários de contribuição estão corretos antes de protocolar o pedido.
- Utilizar o aplicativo ou site Meu INSS para acompanhar o andamento do processo e identificar possíveis pendências.
- Caso o pedido não tenha resposta após 90 dias, registrar uma reclamação formal na ouvidoria. Se, após seis meses, ainda não houver resposta, é possível ingressar com um mandado de segurança.
- Buscar assessoria especializada desde o início do processo para evitar erros que possam atrasar ainda mais a concessão do benefício.
Washington Barbosa enfatiza que muitos atrasos são provocados por erros no início do processo: \"Quando o pedido é mal instruído, o INSS emite uma carta de exigência e o segurado volta para o fim da fila. É como cair na casa 'volte ao início' do jogo de tabuleiro\".
Diante desse cenário, é fundamental que os segurados estejam atentos às exigências e busquem orientação adequada para garantir a concessão de seus benefícios no menor tempo possível.