Ponte queimada: MP exige proteção rigorosa do Parque do Rio Doce durante reforma
Estrutura histórica entre Pingo D’Água e Marliéria receberá mais de R$ 1 milhão para recuperação
Por Plox
17/06/2025 19h39 - Atualizado há 9 dias
A histórica Ponte Queimada, que liga os municípios de Pingo D’Água e Marliéria, na divisa com o Parque Estadual do Rio Doce, está prestes a passar pela tão aguardada restauração. O governo federal destinou cerca de R$1,160 milhão para a obra. Mas a reforma traz preocupações para o Ministério Público. O órgão emitiu duas recomendações formais com o objetivo de proteger o Parque Estadual do Rio Doce (Perd). Veja os detalhes na Live.
Com aproximadamente 200 metros de extensão, a ponte é um dos principais acessos ao Parque Estadual do Rio Doce, desempenhando papel fundamental em operações de salvamento e controle de incêndios dentro da unidade de conservação. Sua construção, que remonta possivelmente aos séculos XVIII ou XIX, foi reconstruída nos anos 1930, mantendo traços arquitetônicos originais com estrutura de pilares de concreto, ferro e piso de madeira.

O local atrai turistas que buscam contemplar a interação entre o rio e a mata preservada, mas as condições precárias da ponte têm afastado visitantes e reduzido significativamente o tráfego. Em agosto de 2023, um incêndio criminoso destruiu cerca de 10 metros da estrutura, resultando na interdição total da travessia.

No entanto, a notícia da reforma também levanta alertas. O Ministério Público de Minas Gerais emitiu duas recomendações preventivas para garantir que o projeto não comprometa o ecossistema do parque.
\"O parque, criado em 1944, é uma unidade de conservação de proteção integral que abriga o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica em Minas Gerais\", afirmam as promotoras Bruna Bodoni Faccioli e Mariana Cristina Pereira Melo.
Controle de acesso e fiscalização permanente
A primeira recomendação foi dirigida ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela gestão do parque. O documento solicita a instalação de uma estrutura de fiscalização fixa nas proximidades da ponte — como guarita, portaria ou posto de controle — com presença de guarda-parques ou monitoramento eletrônico constante. O objetivo é impedir o acesso de veículos e pessoas não autorizadas ao interior do parque.
O MPMG também orienta que esse controle esteja alinhado às diretrizes do Plano de Manejo do Perd, contemplando fiscalização, combate a incêndios, pesquisa e turismo controlado. O IEF deverá apresentar um cronograma detalhado de implementação das medidas no prazo de 30 dias.
Obrigações do município de Marliéria
A segunda recomendação foi enviada à prefeitura de Marliéria, encarregada das obras de restauração. O município deve se abster de qualquer ato que resulte na reabertura irrestrita da Estrada do Salão Dourado, apoiando o IEF no controle de acesso e cumprindo rigorosamente as normas do Plano de Manejo.
Entre as ações exigidas estão o cumprimento das diretrizes ambientais durante a execução das obras — como o manejo adequado de resíduos e restrições ao trânsito de veículos pesados — e a promoção de atividades de educação ambiental junto à população local.

Valor ecológico do Parque Estadual do Rio Doce
As promotoras de Justiça Bruna Bodoni Faccioli e Mariana Cristina Pereira Melo destacaram a importância do cumprimento das recomendações, considerando a alta relevância ecológica do Parque Estadual do Rio Doce. Segundo elas, “o parque, criado em 1944, é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral que abriga o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica em Minas Gerais. A área é reconhecida como Sítio Ramsar e zona núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, sendo habitat de espécies ameaçadas de extinção como a onça-pintada (Panthera onca), o sagui-caveirinha (Callithrix aurita) e o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus)”.
As promotoras ainda alertaram que a obra na Ponte Queimada não pode servir de pretexto para abrir a estrada sem controle rigoroso, pois isso representaria um risco inaceitável para o ecossistema do parque.
Prazos para resposta
Tanto o IEF quanto o município de Marliéria têm 20 dias para informar ao Ministério Público sobre o acolhimento das recomendações e quais providências serão adotadas.