Pix vira alvo em investigação dos EUA por suposta prática desleal
Sistema de pagamento brasileiro incomoda empresas dos EUA e é citado em nova ofensiva do governo Trump
Por Plox
17/07/2025 07h22 - Atualizado há 2 dias
A recente decisão do governo norte-americano de abrir uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais consideradas desleais reacendeu um debate que envolve diretamente o Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central em 2020. O anúncio foi feito pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), que apontou supostos favorecimentos ao sistema de pagamentos desenvolvido pelo governo brasileiro, sem mencionar o Pix nominalmente.
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Segundo especialistas, o descontentamento pode estar relacionado à expansão do Pix no mercado brasileiro, que tem afetado diretamente empresas norte-americanas, como Visa e Mastercard. Com a chegada do Pix Parcelado, previsto para setembro, a tendência é que consumidores migrem ainda mais para essa alternativa, reduzindo o uso de cartões de crédito convencionais, principalmente os emitidos por companhias dos Estados Unidos.
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Por outro lado, dados do Banco Central e de um estudo recente do Google mostram que o Pix não necessariamente substitui os cartões, mas atua de forma complementar. Em 2024, o Pix cresceu 52% e passou a responder por 47% das transações financeiras eletrônicas no Brasil, excluindo dinheiro em espécie. Os cartões, no mesmo período, também apresentaram crescimento: crédito (+11%), débito (+2,5%) e pré-pago (+19,2%).
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Outro ponto que causou desconforto foi o impacto do Pix sobre o lançamento do serviço de pagamentos do WhatsApp, o WhatsApp Pay. A ferramenta, desenvolvida pela Meta — empresa de Mark Zuckerberg, aliado político de Trump —, teve seu lançamento suspenso por determinação do Banco Central e do Cade, com o argumento de risco à concorrência. Quando finalmente liberado, o Pix já havia dominado o mercado, tornando-se a principal escolha dos brasileiros.
O economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, também levanta uma questão geopolítica: o Pix tem sido utilizado em transações internacionais, inclusive em países como Paraguai e Panamá, onde comerciantes já aceitam pagamentos via Pix feitos por brasileiros. Segundo ela, isso representa uma alternativa ao dólar, o que pode incomodar o governo americano.
\"Quanto menor a demanda por uma moeda, menos ela vale\", afirma Cristina.
Para Ralf Germer, CEO da fintech PagBrasil, as críticas americanas são infundadas. Ele ressalta que o Pix foi criado para resolver questões internas do Brasil e se mostrou um sucesso de adesão. \"É um sistema moderno, seguro, que facilitou compras online e presenciais. Antes, quem não tinha cartão de crédito precisava emitir boletos e esperar dias. Com o Pix, o acesso é imediato\", explica.
O executivo também cita funcionalidades como o Pix Copia e Cola, ideal para quem tem dificuldades com leitura de código de barras no celular, e o Pix automático, alternativa mais simples ao débito automático tradicional. Países como China, Índia, Argentina, Uruguai, Colômbia e até mesmo os EUA, com o FedNow, já possuem sistemas semelhantes.
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A tensão comercial ganhou ainda mais força após o presidente Donald Trump ameaçar o Brasil com tarifas de até 50% sobre exportações. A retaliação começou a se concretizar no dia 15 de julho, quando foi oficialmente aberta a investigação. Em comunicado, o representante comercial Jamieson Greer afirmou:
\"Por ordem do presidente Trump, lanço uma investigação sob a Seção 301 sobre os ataques do Brasil às empresas americanas de redes sociais, bem como outras práticas comerciais injustas\".
O Pix, criado em 2020, é hoje o sistema de pagamento mais usado no Brasil. Em 6 de junho de 2025, bateu recordes, com quase 280 milhões de transações e movimentação de R$ 135,6 bilhões em um único dia. O valor é o quarto maior da história desde a implantação do serviço. No final de 2024, no pagamento do 13º salário, o volume chegou a R$ 162,9 bilhões.
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A investigação americana gera preocupação sobre possíveis barreiras comerciais e o futuro das relações entre os dois países, especialmente em áreas estratégicas como tecnologia e sistemas financeiros. Ainda não se sabe como o governo brasileiro irá responder, mas até 1º de agosto as partes devem tentar chegar a um acordo para evitar a aplicação das novas tarifas.