Filme cearense destaca a dor e descoberta após desaparecimento de jovem

A dor da perda transforma as vidas de uma família enquanto lidam com o desaparecimento inesperado de uma jovem

Por Plox

17/09/2024 08h36 - Atualizado há cerca de 1 mês

O cinema cearense tem se dedicado a examinar as muitas formas de fuga, abordando personagens em constante trânsito, seja em busca de uma nova vida fora do país ou em jornadas interiores. Em cartaz a partir desta quinta-feira, o filme "Quando Eu Me Encontrar" apresenta uma nova perspectiva: em vez de se concentrar na pessoa que parte, ele foca naqueles que ficam e como lidam com a ausência dolorosa e inesperada.

Foto: EMBAÚBA/DIVULGAÇÃO
 

Fuga e seus efeitos nos que ficam

Diferente de outras produções que exploram a migração e a fuga em busca de novos horizontes, o foco de "Quando Eu Me Encontrar" está em quem precisa enfrentar o vazio deixado por quem desaparece. Dayane, a jovem cuja história nunca conhecemos diretamente, é o centro dessa narrativa. O filme destaca o impacto de sua partida sobre sua mãe controladora (interpretada por Luciana de Souza), sua irmã invisibilizada (Pipa) e seu noivo obsessivo (David Santos), revelando como a ausência de Dayane transforma a vida de todos ao seu redor.

Dor e transformação dos personagens

Embora a dor da separação esteja presente em todo o enredo, os personagens acabam descobrindo novos propósitos ao longo de sua jornada. O noivo de Dayane, que inicialmente é incapaz de lidar com a perda, começa a refletir sobre suas limitações enquanto gira em círculos tentando compreender o vazio deixado por ela. Já a irmã de Dayane, com um arco mais desenvolvido na narrativa, assume o papel de defensora ao ajudar uma colega de escola que sofre abuso. No entanto, apesar de reforçar o tema do machismo, essa trama paralela acaba não sendo tão bem trabalhada quanto o restante da história.

A força feminina em destaque

Um dos aspectos mais enriquecedores do filme é a forma como ele aborda a cultura machista que permeia a vida dos personagens, especialmente ao retratar uma família composta apenas por mulheres. A mãe de Dayane, que criou suas filhas praticamente sozinha, representa a resiliência e a força feminina em meio a uma sociedade dominada por homens. Essa dinâmica familiar se torna um espelho para os espectadores, que são convidados a preencher lacunas e imaginar as possíveis ausências de figuras paternas ou outras influências masculinas.

O papel da música na narrativa

Uma das personagens que se destaca é Cecília, amiga de Dayane e interpretada por Di Ferreira. Além de ser uma surpresa agradável no elenco, Cecília também desempenha um papel importante ao verbalizar os sentimentos confusos da perda através de sua música. As canções de Cecília são uma forma de expressar a dor e a transformação que os personagens estão vivenciando, tornando a trilha sonora uma parte essencial da narrativa.

Reflexões sobre a migração e a cultura nordestina

Embora o tema da migração seja uma constante no cinema nordestino, com exemplos desde os anos 1970, como "O Homem que Virou Suco" e "Estômago", o filme de Amanda Pontes e Michelline Helena traz uma nova camada de reflexão ao explorar não apenas as razões por trás da partida, mas também os valores que permanecem na terra natal. Dayane, embora ausente fisicamente, continua presente na memória daqueles que ficaram, moldando suas ações e decisões.

Com uma narrativa que alterna entre a dor da separação e a redescoberta pessoal, "Quando Eu Me Encontrar" convida os espectadores a refletirem sobre os impactos deixados por aqueles que partem e como essa ausência pode, paradoxalmente, revelar novos caminhos para quem fica.

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