Disputa política marca votação da anistia na Câmara

Partidos se mobilizam em lados opostos sobre projeto que pode beneficiar condenados por tentativa de golpe, incluindo aliados de Bolsonaro

Por Plox

17/09/2025 08h11 - Atualizado há cerca de 11 horas

Os bastidores da Câmara dos Deputados estão em ebulição com a movimentação intensa dos partidos em torno da votação do requerimento de urgência para a proposta de anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. A medida deve ir a plenário nesta quarta-feira, 17, e provocou reações imediatas tanto da base governista quanto da oposição.


Imagem Foto: Câmara dos Deputados


De um lado, parlamentares oposicionistas articulam a inclusão do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos demais réus recentemente condenados pelo Supremo Tribunal Federal no pacote da anistia. Embora a proposta inicialmente negociada entre os líderes exclua os oito condenados pelo STF, a oposição busca reverter as sentenças por meio da negociação direta com o relator do texto, que ainda será definido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).



Do outro lado, a base do governo tenta barrar o avanço do requerimento. Em reunião realizada na terça-feira, 16, após o encontro de líderes, a bancada do PT definiu que trabalhará para derrubar a proposta em todas as fases, seja no requerimento de urgência ou no conteúdo do projeto, caso chegue à votação.


A posição dos partidos do Centrão pode ser decisiva. A tendência é que esses parlamentares apoiem a urgência da votação e depois atuem para suavizar as penas dos condenados. Entre as propostas em debate, está a redução do percentual de cumprimento da pena em regime fechado, de 20% para 16%, o que encurtaria o tempo de prisão dos envolvidos, tanto os que participaram diretamente dos atos do dia 8 de janeiro quanto os integrantes do núcleo central da tentativa de golpe, onde Bolsonaro figura.



Mesmo com os esforços de articulação, até a noite de terça ainda não havia consenso para levar o requerimento ao plenário. Diante disso, Hugo Motta convocou nova reunião de líderes para a manhã desta quarta-feira, com foco exclusivo na proposta de anistia. O presidente da Câmara tem interesse em concluir rapidamente a votação dessa pauta, o que permitiria a liberação da agenda para projetos considerados prioritários.


Aliados de Motta reconhecem que o momento é sensível, já que o STF concluiu recentemente as condenações mais simbólicas. A avaliação entre interlocutores do presidente da Câmara é que o clima político pode forçar a aprovação apenas de uma versão limitada da anistia — sem incluir Bolsonaro — para não colidir diretamente com o Supremo.



Caso o texto seja aprovado na Câmara, há um longo caminho pela frente. A proposta ainda enfrentaria resistência no Senado e, mesmo que consiga passar pelas duas casas, pode ser vetada pelo presidente Lula ou contestada judicialmente.


Na tentativa de ampliar a base de apoio, Motta propôs um acordo aos partidos governistas: se o PT apoiasse a chamada “PEC da blindagem”, que fortalece as prerrogativas dos parlamentares, o Centrão ajudaria a enterrar o requerimento de urgência da anistia. No entanto, a proposta foi rejeitada pela bancada petista, que classificou a iniciativa como uma forma de \"chantagem\".


“O acordo foi visto como chantagem pelos deputados do PT”, relataram integrantes da bancada após a reunião interna realizada a portas fechadas.


A votação desta quarta promete ser decisiva não apenas para o futuro dos condenados, mas também para a articulação política entre governo, oposição e Centrão. O desfecho da proposta de anistia poderá sinalizar os rumos das relações entre os Poderes e o impacto das decisões do STF dentro do Congresso.


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