Brasil elimina elefantíase e recebe certificado internacional da OMS
Cerimônia em Brasília celebra marco histórico de saúde pública, reconhecendo o país como livre da filariose linfática, endêmica no passado.
Por Plox
17/11/2024 11h16 - Atualizado há 4 dias
O Brasil foi oficialmente reconhecido como livre da filariose linfática, popularmente chamada de elefantíase. O certificado foi entregue pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ao governo brasileiro em cerimônia realizada na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília, no último dia 11 de novembro. O feito marca um avanço significativo na saúde pública do país, sobretudo no combate às chamadas doenças tropicais negligenciadas.
Impacto das doenças negligenciadas
Durante o evento, Jarbas Barbosa, diretor da Opas, destacou o esforço necessário para eliminar a elefantíase, enfatizando o vínculo entre doenças negligenciadas e a pobreza. “São os mais pobres os que mais adoecem, e, ao adoecerem, tornam-se ainda mais pobres. Perdem produtividade, e a família enfrenta mais despesas”, explicou. Barbosa também apontou a erradicação de doenças como uma questão ética e moral: “Se temos as ferramentas para eliminar uma doença, devemos usá-las para beneficiar quem precisa, superando barreiras como acesso aos serviços e novas tecnologias.”
Ele ainda reforçou o potencial do Brasil para liderar ações de saúde pública na América Latina: “Assim como eliminamos a filariose, podemos avançar na erradicação de outras doenças, como oncocercose, tracoma e até tuberculose.”
Ministra da Saúde: reflexões sobre desigualdade social
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, aproveitou a ocasião para lembrar que doenças como a filariose linfática não apenas resultam de desigualdades sociais, mas também as agravam. “São causas e efeitos ao mesmo tempo. Por isso, esse momento é tão especial. Dedicamos esse certificado às pessoas afetadas pela filariose e reafirmamos nosso compromisso de combater as doenças da pobreza, ou melhor, as doenças da omissão e da falta de cuidado”, afirmou.
Causa, sintomas e histórico da doença no Brasil
A filariose linfática é causada pelo verme nematoide Wuchereria bancrofti, transmitido pela picada do mosquito Culex quiquefasciatus (popularmente conhecido como pernilongo ou muriçoca) infectado com larvas do parasita. Seus principais sintomas incluem edemas severos e acúmulo de líquidos nos membros, seios e bolsa escrotal, gerando incapacidades permanentes.
No Brasil, a doença era considerada endêmica na região metropolitana do Recife, incluindo municípios como Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista. O último caso confirmado no país foi registrado em 2017, segundo o Ministério da Saúde.
Reconhecimento global e desafios persistentes
Com o certificado, o Brasil se junta a outros 19 países e territórios que eliminaram a filariose linfática como problema de saúde pública, como Egito, Tailândia e Maldivas. No entanto, nas Américas, países como República Dominicana, Guiana e Haiti ainda enfrentam a endemia da doença. Nesses locais, a administração em massa de medicamentos é recomendada para interromper a transmissão.
Dados da OMS indicam que, em 2023, cerca de 657 milhões de pessoas em 39 países ainda viviam em áreas com necessidade de tratamento em massa contra a filariose. A meta global da entidade é eliminar pelo menos 20 doenças tropicais negligenciadas até 2030, reforçando iniciativas como quimioterapia preventiva e desenvolvimento de vacinas.