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Polícia
Dentista é denunciada após advogada ficar 12 dias no CTI e ter rosto deformado em lipo de papada no Rio
Cirurgiã-dentista Cynthia Heckert Brito foi indiciada e denunciada por lesão corporal grave e gravíssima após platismoplastia em consultório odontológico na Zona Oeste; Justiça suspendeu atuação em harmonização facial e MP pede indenização mínima de R$ 200 mil
17/12/2025 às 09:19por Redação Plox
17/12/2025 às 09:19
— por Redação Plox
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Um procedimento estético realizado em um consultório odontológico na Zona Oeste do Rio levou a advogada Eloah Teixeira Carneiro Lins, de 56 anos, a 12 dias de internação em CTI e a deformações no rosto após uma “lipo de papada” feita em novembro de 2024.
A responsável pelo procedimento, a cirurgiã-dentista Cynthia Heckert Brito, foi indiciada pela 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) e denunciada pelo Ministério Público pelos crimes de lesão corporal grave e lesão corporal gravíssima. No início de dezembro, a Justiça aceitou a denúncia, tornou a profissional ré e determinou a suspensão de sua atuação em procedimentos de harmonização facial até o fim do processo.
Constata-se haver justo receio de que a continuidade do exercício da profissão da acusada propicie a prática de novas lesões à integridade física, à saúde e à vida de terceiros.
Juiz Antônio Alves Cardoso Júnior
A defesa de Cynthia afirma que houve uma intercorrência clínica, classifica a decisão como desproporcional, diz que vai recorrer e sustenta que não há culpa comprovada.
Antes e depois da advogada Eloah Carneiro após procedimento estético no ano passado
Foto: Reprodução
Cirurgia estética e agravamento do quadro
A platismoplastia — também chamada de lipo de papada — foi realizada em 25 de novembro de 2024, com o objetivo de levantar a pele do pescoço e rejuvenescer a região. Segundo Eloah, os sinais de que algo estava errado apareceram já no dia seguinte à cirurgia, com inchaço intenso e escurecimento do rosto.
Preocupada, a advogada enviou fotos à profissional e, dois dias depois, foi ao consultório na Avenida das Américas relatando piora do quadro, com manchas escuras no rosto, próximo aos ouvidos e descendo para o peito. Ela afirma que pagou por uma drenagem e que parte do prometido na técnica não foi cumprido, apontando falhas na colocação de fios de sustentação e na sutura da musculatura.
Uma dentista vizinha, ao ver o estado de Eloah, a levou imediatamente para o Hospital Rios D’Or. Lá, exames constataram que os ferimentos haviam provocado um quadro grave, com risco de morte, o que levou à sua internação em CTI.
Durante os 12 dias de internação, de acordo com a paciente, Cynthia foi ao hospital duas vezes e atribuiu o quadro a uma intercorrência. Em seguida, ao solicitar a devolução dos valores do procedimento, Eloah relata ter recebido um contrato genérico com uma cláusula que a impediria de comentar o caso e de representar criminalmente contra a profissional.
A advogada diz já ter desembolsado valores elevados em cirurgias e tratamentos de correção dos danos, e afirma que pretende transformar a experiência em alerta para outras pacientes sobre a escolha de profissionais habilitados.
Denúncia do MP e risco à saúde pública
Na denúncia, o Ministério Público sustenta que a platismoplastia está fora do escopo legal da odontologia e que Cynthia teria atuado com imperícia na execução da técnica. A falha na colocação dos fios de sustentação teria provocado um hematoma extenso, comprometendo a base da língua e as vias aéreas, o que levou Eloah ao CTI com risco de morte.
O MP aponta a existência de dolo eventual e descreve um padrão de conduta profissional considerado perigoso para outros pacientes, ressaltando que, segundo a própria acusada, ela continuaria a realizar procedimentos semelhantes.
O órgão pediu a condenação da cirurgiã-dentista, bem como uma indenização mínima de R$ 200 mil à vítima. Também solicitou a suspensão imediata da atuação da profissional em procedimentos de harmonização facial até o julgamento definitivo da ação penal — pedido que foi acolhido pela 28ª Vara Criminal.
Eloah afirma já ter levado o caso ao Conselho Regional de Odontologia e questiona o fato de a profissional seguir em atividade, apesar das denúncias.
Paralelamente, tramita no 9º Juizado Especial Criminal do Rio um processo em que Cynthia responde por falso exercício da medicina. Ela nega ter praticado qualquer ato privativo de médicos e alega possuir formação para atuar em procedimentos estéticos reconhecidos pelo Conselho Federal de Odontologia.
Limites da atuação de dentistas em cirurgias estéticas
Em nota conjunta enviada ao g1, os Conselhos Regional e Federal de Odontologia esclareceram que a platismoplastia não consta no rol de procedimentos reconhecidos para a especialidade de harmonização orofacial. Ainda assim, as resoluções de 2019 e 2020, que regulam procedimentos especializados, não trazem uma proibição nominal específica à técnica.
Segundo o comunicado, o tema vem sendo analisado sob os aspectos técnico e jurídico no âmbito do Conselho Federal de Odontologia.
Já a lipo de papada, nome popular para a lipoaspiração submentoniana, é reconhecida como procedimento possível na harmonização orofacial, desde que realizada por profissional habilitado, em ambiente adequado e com rigorosa observância das normas éticas e de segurança do paciente.
Na decisão que suspendeu Cynthia dos procedimentos de harmonização facial, o juiz da 28ª Vara Criminal determinou ainda que o Cremerj informe se lipoaspiração facial, cervicoplastia, platismoplastia, minilifting, alectomia e lipo submental cirúrgica são atos exclusivos de médicos.
O que diz a defesa da cirurgiã-dentista
Em nota, a defesa de Cynthia afirma que a profissional é cirurgiã-dentista com mais de 15 anos de atuação, 10 anos de especialização cirúrgica e formação em harmonização orofacial e cirurgia estética da face, incluindo manejo de intercorrências.
Os advogados sustentam que o ocorrido com Eloah foi uma intercorrência clínica possível mesmo quando o procedimento é realizado corretamente, dentro dos protocolos e de forma técnica, e que tais eventos podem decorrer de fatores individuais do organismo do paciente.
A defesa também alega que, até o momento, Cynthia não teria sido formalmente citada de qualquer decisão definitiva sobre suspensão profissional e que eventual medida nesse sentido será questionada por violar a presunção de inocência.
Sobre a internação em CTI, a nota descreve a medida como preventiva, adotada para garantir segurança máxima à paciente, e afirma que não houve sequelas permanentes, o que indicaria que a intercorrência foi controlada e revertida.
Os defensores sustentam ainda que o procedimento realizado estaria dentro dos limites legais da odontologia, que abrangem cabeça e pescoço, e mencionam manifestação do Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro confirmando que a atuação da profissional se daria em sua área de competência.
A nota acrescenta que o consultório permanece regular, sem pendências sanitárias, e que Cynthia não responderia a processo por exercício ilegal da medicina, uma vez que os atos praticados estariam restritos a sua área regulamentada pelo Conselho de Classe.
A defesa afirma que a exposição pública do caso antes de decisão definitiva tem causado prejuízos emocionais, profissionais e à imagem da cirurgiã-dentista, e ressalta o compromisso da profissional com ética, segurança dos pacientes e transparência, declarando confiança de que os fatos serão analisados com responsabilidade pela Justiça. Informações relatadas pelo portal G1.