Jovem com neuralgia do trigêmeo celebra formatura apesar das dores intensas
Carolina Arruda, que vive com uma das condições mais dolorosas do mundo, precisou de cadeira de rodas e enfrentou falta de acessibilidade na festa
Por Plox
18/02/2025 10h35 - Atualizado há 2 meses
A mineira Carolina Arruda, de 27 anos, emocionou seguidores ao compartilhar sua formatura no curso de Veterinária. Diagnosticada com neuralgia do trigêmeo, doença rara que causa dores intensas, ela relatou as dificuldades enfrentadas durante a celebração, incluindo a falta de acessibilidade no local. Apesar dos desafios, Carolina comemorou o momento ao lado da família e amigos.

Formatura marcada por desafios e superação
Carolina usou suas redes sociais para expressar a emoção de concluir a faculdade, mesmo diante das limitações impostas pela doença. "Não foi a formatura que eu imaginei, mas foi a que a vida me deu. E, no fim, o que fez tudo valer a pena não foi o evento em si, mas quem estava lá comigo", escreveu.
A jovem compartilhou vídeos dançando a tradicional valsa de formatura em sua cadeira de rodas. "Por um momento, esqueci de tudo. Porque, no fim das contas, não é sobre onde estamos, e sim sobre quem está ao nosso lado tornando tudo mais leve", acrescentou.
No entanto, nem tudo foi comemoração. Carolina relatou dificuldades devido à falta de estrutura acessível na festa. "Diferente da minha família, todos os locais e as pessoas me excluíram completamente de tudo que estava acontecendo. Parecia que eu não era formanda, que era só uma convidada da turma", desabafou.
Ela destacou que o local do evento tinha vários degraus e nenhuma rampa, o que resultou em grande esforço para ser movida de um lado para o outro. "Esse esforço e essa tensão já foram suficientes para me dar crises de dor. Comecei a passar mal, desmaiei várias vezes", relatou. No fim da noite, precisou ser levada de ambulância ao hospital devido às dores intensas.
"Eu estava preparada psicologicamente para ir ao hospital, sabia que existia essa grande possibilidade, afinal, era um dia muito estressante e cansativo", disse. "Nesse dia, infelizmente caiu minha ficha de que não posso mais ter uma vida normal, afinal o mundo não está preparado para nós".
O impacto da neuralgia do trigêmeo
Carolina recebeu o diagnóstico de neuralgia do trigêmeo aos 16 anos, logo após uma gravidez. A condição, considerada uma das mais dolorosas do mundo, afeta cerca de 4,3 pessoas a cada 100 mil e se manifesta por dores crônicas e excruciantes.
Carlos Marcelo de Barros, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), explicou ao O Globo que a doença ocorre devido a um problema no nervo trigêmeo, localizado na face. "Em 90% dos casos, é causada por conflito vascular, quando uma artéria encosta no nervo e o desmieliniza, fazendo com que ele funcione de maneira disfuncional", explicou o especialista.
O caso de Carolina é ainda mais raro, pois sua condição atinge ambos os nervos da face e os três ramos de cada um deles, tornando o quadro extremamente grave.
Desde o diagnóstico, a jovem passou por diversas intervenções médicas, incluindo neurocirurgias e implantes de neuroestimuladores, mas os tratamentos tiveram pouco efeito sobre a dor.
Possibilidade de eutanásia na Suíça
No ano passado, Carolina revelou estar considerando realizar eutanásia na Suíça devido ao sofrimento intenso causado pela doença. Após sua declaração, foi contatada pelo presidente da SBED, e juntos buscaram novas opções terapêuticas.
Neste ano, a jovem recebeu um novo diagnóstico: espondiloartrite axial, outra doença crônica e incurável que afeta a coluna vertebral, a cabeça e a caixa torácica. O tratamento com imunobiológicos foi iniciado, mas a piora das dores fez com que Carolina mantivesse a possibilidade da eutanásia em consideração.
A eutanásia e a morte assistida são legais na Suíça, mas proibidas no Brasil. Enquanto na eutanásia um médico administra a substância letal, no suicídio assistido o próprio paciente realiza a aplicação, após prescrição médica.
Carolina segue compartilhando sua jornada nas redes sociais, abordando temas como acessibilidade, qualidade de vida e os desafios de viver com uma doença rara e extremamente dolorosa.