"O Autismo de Grau Um e o Diagnóstico Tardio: O Caso da Cantora Sia"

A artista australiana Sia, de 47 anos, recentemente compartilhou uma notícia pessoal surpreendente. A cantora revelou que foi diagnosticada com autismo, um transtorno do espectro autista (TEA), um diagnóstico geralmente realizado na infância.

De acordo com o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, os TEAs são distúrbios do neurodesenvolvimento que levam a desafios na interação e comunicação social, além de irregularidades no desenvolvimento intelectual.

Processo de Diagnóstico do TEA

Edson Issamu, neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, destaca que o diagnóstico do TEA geralmente ocorre através de um processo clínico que envolve uma entrevista entre paciente, médico e psicólogo. Também podem ser solicitados exames adicionais como ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas, eletroencefalograma e um teste neuropsicológico.

Porém, não existem deformidades cerebrais ou aspectos bioquímicos que justifiquem o autismo, de acordo com Wimer Bottura, psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. Isso pode gerar controvérsias no diagnóstico do TEA.

Compreendendo o Espectro do Autismo

Issamu ressalta que o TEA, sendo um espectro, cobre um leque de manifestações. O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-5) categoriza o autismo em três níveis, cada um com características distintas e especificidades de apoio necessárias.

Diagnóstico Tardio em Adultos: O Autismo em Grau Um

O diagnóstico tardio, como o da cantora Sia, geralmente ocorre em adultos que apresentam o nível 1 do autismo, considerado o grau mais leve. Nesses casos, os pacientes podem normalmente se relacionar e manter uma vida profissional, com manifestações menos graves quando comparadas aos graus dois e três, que são geralmente diagnosticados na infância.

Issamu afirma que o diagnóstico tardio do transtorno geralmente ocorre quando questões sociais se tornam incômodas, impactando a vida do indivíduo, seus relacionamentos interpessoais ou seu trabalho. "O autismo se caracteriza pela dificuldade de contato, no sentido de perceber o outro, vibrar na mesma frequência que outras pessoas. No adulto, essa dificuldade existe com menos intensidade e gravidade quando comparada à infância", explica Bottura.

Abordagens Terapêuticas para o TEA

Apesar de não existir uma cura para o TEA, os especialistas concordam que abordagens terapêuticas multidisciplinares podem ajudar a controlar os sintomas. Estas incluem apoio psicológico, terapias ocupacionais para ajudar no desenvolvimento de habilidades e consultas com psiquiatras, principalmente em casos onde existem outros transtornos associados.

Bottura acrescenta:

"Outra abordagem terapêutica promissora é a arteterapia, que pode incluir pintura, escultura ou música. Estas formas alternativas de expressão podem auxiliar o indivíduo a estabelecer contato com seus próprios sentimentos e com outras pessoas, utilizando a arte como intermediário".

Bottura conclui reforçando a importância de explorar vias de comunicação não convencionais para pessoas com autismo, dada a dificuldade predominante de comunicação que esses indivíduos enfrentam. A descoberta de novos métodos de expressão pode aumentar as chances desse paciente ter e causar menos sofrimento.