Crise com EUA e Congresso faz Lula retomar discurso histórico da esquerda
Governo resgata temas como justiça tributária e soberania nacional em meio a impasses com Legislativo e tarifas de Trump
Por Plox
18/07/2025 08h13 - Atualizado há 10 dias
Pressionado por desgastes políticos internos e pelo atrito diplomático com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem aproveitado o momento para reacender bandeiras históricas da esquerda brasileira. Com a narrativa voltada à justiça social, Lula e seus aliados vêm resgatando temas que marcaram suas gestões anteriores e que dialogam com a base popular do Partido dos Trabalhadores.

O estopim para essa virada foi o confronto com o Congresso Nacional após a revogação do decreto que reajustava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A derrota legislativa, atribuída por setores do governo ao presidente da Câmara, Hugo Motta, desencadeou uma onda de críticas nas redes sociais. Termos como “Congresso da mamata” e “traidor” viralizaram, refletindo o descontentamento da militância.
Além disso, surgiram acusações de que parlamentares estariam cedendo à pressão de empresários e grupos ligados às apostas esportivas, o que teria motivado o bloqueio de pautas populares. Em resposta, o governo reforçou a defesa de medidas como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, a taxação dos super-ricos e o fim da jornada de trabalho 6x1. A estratégia foi clara: apresentar o Congresso como entrave às reformas de interesse da população.
Essa narrativa de “ricos contra pobres”, que remete ao clássico embate de classes, reacendeu o entusiasmo da base progressista. Para militantes e apoiadores de Lula, trata-se de uma reconexão entre o presidente e o eleitorado mais fiel, após um período em que o governo era criticado por hesitar na comunicação de suas propostas sociais.
Ao mesmo tempo, o centro político vê com cautela essa guinada. Há receios de que o clima de polarização se intensifique, prejudicando a articulação no Congresso. Como tentativa de contenção, ministros do governo vieram a público para defender Hugo Motta e distanciar institucionalmente o Planalto da ofensiva virtual.
Paralelamente ao cenário doméstico, as tarifas de 50% impostas por Donald Trump a produtos brasileiros serviram de combustível para Lula adotar um discurso nacionalista. Ele tem reiterado em falas públicas que “o Brasil é dos brasileiros” e reforçado o papel do Pix como símbolo de inovação nacional.
“O Pix é nosso”
, repetiu em mais de uma ocasião, numa clara crítica ao que chamou de postura imperialista do governo americano.
A retórica antiamericana, ainda que suavizada, resgata elementos do antiimperialismo tradicional da esquerda, em contraste com o nacionalismo da direita. E, apesar dos improvisos recorrentes, os aliados veem ganho político na espontaneidade do presidente neste contexto.
Uma pesquisa recente da Quaest, divulgada no dia 16, aponta que 53% da população considera o discurso “ricos contra pobres” inadequado por estimular conflitos, enquanto 38% o enxergam como legítimo. A avaliação reforça que, embora eficaz para mobilizar a base, a estratégia exige equilíbrio para não isolar o governo.
A avaliação entre assessores de Lula é que a chave para consolidar esse momento positivo é combinar o tom combativo com entregas concretas que melhorem a percepção econômica da população. Só assim, acreditam, o presidente poderá converter discurso em recuperação duradoura da popularidade.