Mudanças climáticas podem elevar preços de alimentos ainda em 2024
Economista alerta que calor extremo ameaça produção de cítricos e pode encarecer alimentos no varejo
Por Plox
18/09/2024 09h18 - Atualizado há 3 meses
A sequência de ondas de calor e frio intensos, agravada pela seca e pela disseminação de incêndios, está colocando em risco a produção agrícola no Brasil e pode elevar os preços dos alimentos já em 2024. De acordo com Thiago de Oliveira, economista da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), essas condições climáticas extremas podem impactar o varejo, com aumentos nos preços já previstos para outubro deste ano.
Frutas cítricas sob pressão climática
Entre os produtos mais afetados, Oliveira destaca os cítricos, como laranjas e limões, cuja produtividade é altamente sensível às variações do clima. A seca e a instabilidade nas condições climáticas favorecem o avanço de doenças, como o Cancro Cítrico e o Greening, que já resultaram na erradicação de mais de 2 milhões de pés de frutas no estado de São Paulo em 2024. "Sem uma melhora considerável na umidade, haverá um aumento expressivo nos custos, começando pelo atacado e rapidamente chegando ao consumidor", explicou o economista.
Hortaliças também sofrem com o clima
Outro grupo que pode ser impactado pelas mudanças climáticas é o das hortaliças. Folhas e legumes, que tiveram boa oferta nas últimas semanas devido ao clima seco, podem enfrentar dificuldades a partir de dezembro. Apesar de o tempo seco favorecer a maturação e colheita desses produtos, ele prejudica os ciclos de plantio e crescimento das plantas, o que pode gerar uma queda na oferta e, consequentemente, uma elevação nos preços.
Impacto nos pequenos produtores
Oliveira ressaltou que os pequenos produtores são os mais vulneráveis às flutuações climáticas, pois têm menor capacidade de diversificar suas culturas e investir em soluções de mitigação. “O pequeno produtor perde mais, pois não tem condições de investir em grandes áreas ou em tecnologias que possam minimizar os impactos do clima. Ainda não estamos vendo um aumento expressivo no endividamento, pois eles estão arriscando menos, evitando expandir suas áreas de cultivo", destacou.
Tendências de mercado
Apesar dos desafios, os preços de frutas e verduras registraram uma queda nos últimos dois meses, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e da própria Ceagesp. Essa redução foi impulsionada pela boa oferta de produtos como tomate e batata. Contudo, a situação ainda é incerta, já que a produção agrícola depende diretamente da regularidade das chuvas nas próximas semanas. Oliveira lembra que, embora as chuvas recentes tenham contribuído para estabilizar a produção, a distribuição desigual da precipitação pode alterar esse cenário.
Incêndios afetam produção no estado de São Paulo
Além dos desafios climáticos, os incêndios que têm atingido o estado de São Paulo desde agosto são outro fator de risco para a produção agrícola. Apesar de uma redução de 88% nos focos de incêndio, graças a uma ação coordenada envolvendo 20 aeronaves e à chegada de chuvas leves, três municípios paulistas ainda registravam focos ativos até esta segunda-feira (16): Itirapuã, Rifaina e Bananal. A Defesa Civil mantém a recomendação de cautela e continuará monitorando as áreas mais afetadas, especialmente no norte do estado, que ainda não recebeu chuvas significativas.