Queimadas na Amazônia intensificam crise do efeito estufa com aumento de 60% nas emissões de gases

Crescimento nas emissões coloca em risco o equilíbrio climático global

Por Plox

18/09/2024 09h04 - Atualizado há 3 meses

As emissões de gases do efeito estufa causadas pelas queimadas na Amazônia aumentaram significativamente em 2024, revelando uma situação alarmante. De acordo com o Observatório do Clima, entre junho e agosto deste ano, os incêndios emitiram 31,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO²) equivalente na atmosfera. Esse número representa um aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior e é quase comparável às emissões anuais de um país como a Noruega, que libera 32,5 milhões de toneladas de CO² por ano.

Foto: Agência Brasil

Impactos imediatos e duradouros das queimadas

Dos 2,4 milhões de hectares incendiados no período, cerca de 700 mil hectares eram florestas, responsáveis pela emissão de 12,7 milhões de toneladas de CO² equivalente. Além disso, os efeitos das queimadas continuarão a gerar emissões nos próximos anos devido à decomposição da matéria orgânica queimada, uma chamada "emissão tardia". O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) estima que, ao longo da próxima década, mais 2 a 4 milhões de toneladas de CO² equivalente serão lançadas na atmosfera, exacerbando a crise ambiental na região.

Fatores que intensificam os incêndios na floresta amazônica

Segundo Ane Alencar, diretora científica do Ipam, as queimadas que atingem a Amazônia deixam a floresta mais vulnerável a novos incêndios, criando um ciclo destrutivo. "Quando a floresta queima pela primeira vez, ela fica mais suscetível a novos incêndios. As árvores perdem folhas, caem e quebram outras, criando mais material combustível. O próximo fogo será mais intenso e emitirá mais gases do efeito estufa", explica Alencar. Esse cenário de degradação contínua torna a floresta mais inflamável e frágil a cada nova temporada de incêndios.

Consequências das emissões para a atmosfera global

Os gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO²), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), têm a capacidade de reter o calor do sol na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Uma tonelada de metano, por exemplo, equivale a mais de 20 toneladas de CO² em termos de retenção de calor ao longo de 100 anos. Já uma tonelada de óxido nitroso tem um efeito ainda mais devastador, com equivalência a quase 300 toneladas de CO² no mesmo período. Embora esses gases representem uma pequena parte da composição atmosférica, seu impacto no equilíbrio térmico do planeta é profundo e de longo prazo.

Amazônia, seca e efeitos globais

As queimadas também provocam uma maior concentração de biomassa por hectare na Amazônia, tornando as emissões ainda mais intensas, conforme explica Marcos Freitas, coordenador do Instituto Virtual de Mudanças Globais (Ivig), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Na Amazônia, trabalhamos com 250 a 300 toneladas de carbono por hectare. O risco de ultrapassarmos os 20% de desmatamento na área original é alto, o que pode resultar em uma queda drástica na evapotranspiração, exacerbando o fenômeno da seca", alerta Freitas.

Desafios e mitigação das emissões

Apesar das iniciativas de mitigação do governo brasileiro, como os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, as queimadas continuam a ser um obstáculo significativo. O inventário oficial de emissões não considera incêndios florestais espontâneos ou decorrentes da seca, apenas aqueles relacionados ao desmatamento para mudanças no uso do solo, o que torna o desafio ainda mais complexo.

Dessa forma, as queimadas na Amazônia seguem como uma das principais ameaças ao equilíbrio climático global, com efeitos de longo prazo que ainda precisam ser devidamente contabilizados e enfrentados.

Destaques