Lula descarta temor de nova disputa com Bolsonaro nas urnas

Durante uma entrevista concedida à BBC News Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira (17), que não sente qualquer receio em enfrentar o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma nova disputa presidencial.

Foto: Agência Brasil

\"Ganhei dele quando ele era presidente da República, utilizando todos os recursos disponíveis para tentar impedir a minha vitória\", relembrou Lula, mencionando que, mesmo com o uso do aparato estatal, saiu vitorioso nas eleições de 2022. Segundo ele, Bolsonaro chegou a mobilizar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar o acesso de eleitores às urnas, sobretudo no Nordeste, onde Lula mantinha ampla vantagem. Esse episódio, ocorrido no segundo turno, em 30 de outubro, segue sendo investigado dentro da apuração da tentativa de golpe de Estado. O então diretor da PRF, Silvinei Vasques, já foi condenado por improbidade administrativa.

Apesar da disposição demonstrada para um eventual embate nas urnas, o presidente evitou confirmar sua candidatura à reeleição em 2026. Ele destacou que essa decisão depende de dois fatores: sua condição de saúde e a avaliação política do Partido dos Trabalhadores (PT) sobre as chances reais de vitória. “Ainda há muitas tarefas a cumprir neste mandato”, frisou, antes de listar realizações de sua gestão até aqui.

Enquanto isso, Bolsonaro permanece inelegível. Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o tornou inelegível até 2030, após encontros com embaixadores nos quais buscou desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Mais recentemente, em 11 de setembro deste ano, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe. Mesmo assim, parlamentares aliados articulam propostas para uma possível anistia.

Ao ser questionado sobre comparações entre sua prisão em 2018 e a situação atual de Bolsonaro, Lula foi enfático: “Essa comparação não pode ser feita”. Ele argumentou que, enquanto esteve preso, não havia provas contra ele, apontando para a “irresponsabilidade de um juiz e de um promotor”, e lembrou que o Comitê de Direitos Humanos da ONU defendeu sua candidatura na época.

\"Eu estava preso por irresponsabilidade de um juiz e de um promotor sem que tivesse qualquer prova contra mim\", disse Lula.

Por outro lado, sobre Bolsonaro, o presidente afirmou: “Esse cidadão tem crime comprovado. Se você assistiu ao julgamento, viu as provas concretas dos crimes cometidos”. Ainda segundo Lula, o ex-presidente teve direito à presunção de inocência antes de ser condenado e agora deve continuar sua defesa para tentar comprovar sua inocência.

“Até agora, ele é o responsável por tentar dar um golpe de Estado neste país”, declarou Lula, ao encerrar esse trecho da conversa com a BBC.

O tema da reeleição presidencial, a situação judicial de Bolsonaro e as estratégias políticas em curso no Congresso devem continuar movimentando o cenário político nacional nos próximos meses.